14 de abril de 2025

Fomes inaugurais é o novo livro de Whisner Fraga

 “Fomes inaugurais” dá protagonismo a quem vive na rua e expõe violências veladas da sociedade

 

O novo livro do escritorWhisner Fraga , "Fomes inaugurais" (Editora Sinete, 90 págs.) , retrata a aspereza cotidiana e a desumanização de quem vive na rua. Com contos curtos e cenas indigestas, a obra sai do lugar-comum ao dar voz a quem está deitado no papelão. Nesse contexto, violências e indignidades veladas ficaram expostas e escancaram as hipocrisias da sociedade atual. Finalista do prêmio Jabuti em 2023 na categoria conto, o autor volta ao gênero e apresenta ao leitor mais uma obra mordaz e audaciosa. A obra tem posfácio do escritor Hugo Almeida.

A motivação para escrever o livro veio de uma experiência pessoal. Membros do condomínio em que o escritor mora queriam expulsar um casal que ocupava a calçada em frente ao local. “Algumas mensagens de caráter profundamente desumano me deixaram revoltado”, revela.

Nesse contexto, “Fomes inaugurais” perpassa temas delicados da condição humana como os julgamentos sociais, a injustiça, a maldade, mas também aborda o contraponto como empatia e o espírito colaborativo para a sobrevivência em um ambiente hostil.

Trata-se do seu sétimo livro de contos e o terceiro dedicado aos minicontos, como define Whisner. Cada história, que, num primeiro momento, parece isolada, revela uma cena que contém uma paisagem maior e mais complexa. Essa configuração narrativa, com a aposta em textos pequenos, diretos e que se relacionam, contribui para fomentar o interesse do leitor a seguir em frente e compor o quebra-cabeça com as peças fornecidas a cada conto.

Ainda que sejam narrativas breves, Whisner não se furta a elencar os melhores termos para descrever sentimentos e situações. Destaque para os títulos dos contos, os sete primeiros são compostos por duas palavras e sempre começam com “o apetite”, temos “o apetite relutante”, “o apetite galanteador”, e assim por diante.

O refinamento do vocabulário e composição dos enredos evidenciam o amadurecimento do autor que se dedica às letras há pelo menos 25 anos. “Este livro representa tudo o que eu quis fazer em termos literários: a concisão, a poesia, a crítica social”, defende e assume: “O livro me pareceu profundamente, consigo ver com muito mais empatia e avaliar mais profundamente a vida em sociedade”.

 

Sobre o autor: Whisner Fraga nasceu em Ituiutaba, cidade do interior mineiro, e atualmente mora na cidade de São Paulo. Sua formação acadêmica é singular e profícua: Engenharia Mecânica (UFU), 1994, Mestrado em Engenharia Mecânica (UFU), 1997, Doutorado em Engenharia Mecânica (USP), 2003, Pedagogia (UFSCar), 2014, e Tecnólogo em Marketing Digital (Uninter), 2023. O mineiro estreou no universo literário em 1997 com “Seres e Sombras”. Sua obra seguinte, “Coreografia de danados”, de 2002, foi publicada por meio do prêmio Galo Branco. Desde então lançou mais de uma dezena de livros, com destaque para o finalista do prêmio Jabuti, em 2023, “Usufruto de demônios”. Whisner também participou de antologias importantes como a “Geração zero zero: fricções em rede” (Língua Geral), organizada por Nelson de Oliveira, que mapeou os escritores brasileiros mais emblemáticos surgidos na primeira década do século 21 e “Os cem menores contos brasileiros do século”, capitaneada por Marcelino Freire. No exterior, teve alguns de seus contos traduzidos para o inglês, alemão e árabe por meio da Revista Literária Pessoa. Além da escrita, o autor se conecta com o público também por meio do canal no Youtube, “ Acontece nos livros ”, que tem mais de 16 mil inscritos e dezenas de vídeos publicados. No espaço virtual faz revisão de livros, dá dicas e também conversa com outros autores.

 

Trecho do livro (pág. 34):

“mendigo é diferente de morador de rua e pessoa em situação de rua é pior, morador de rua escolhe morar na rua, e pessoa em situação de rua pousa no abrigo, sem o cachorro, pois não recebe bichos lá, e vários animais têm de animais de estimação, ah, esses eufemismos burgueses, a classe média esclarecida complica, essas pautas e bandeiras identitárias, essa esquerda pensante, eles se preocupam com as refeições, com a tribo, a queimação, o corte de cabelo, a temperatura, as agressões, os assassinatos, estão se lixando se dormem na rua ou no asilo ou o modo que são denominados, dependendo do lugar em que pernoitam”

 

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