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O tempo e seus mistérios
Dizem que o tempo é relativo. Para Carol, minha amiga de longa data, essa teoria de Einstein ganhou contornos peculiares. Em seu universo particular, a produtividade é inversamente proporcional ao tempo disponível - uma equação que desafia a lógica e intriga a todos que a conhecem.
Sentada no nosso café preferido, numa tarde de sexta-feira, ela me conta suas façanhas do dia enquanto mexe distraidamente o cappuccino. São 16h45 e seu rosto exibe aquela serenidade típica de quem acabou de vencer uma maratona. Na verdade, foi quase isso.
"Como assim você já fez tudo?", pergunto, enquanto consulto a lista de tarefas que ela havia me enviado de manhã - uma mensagem tão longa que o WhatsApp precisou dividi-la em três partes.
Com a naturalidade de quem comenta sobre o clima, Carol enumera: apresentou um relatório de trinta páginas, participou de duas reuniões presenciais e uma online, resolveu a pane digital da mãe (uma senhorinha que ainda acha que o Wi-Fi é um espírito que vive dentro do roteador!), levou o gatinho ao veterinário e ainda revisou toda a planilha de processos da semana que estava se encerrando.
"Ah, e aproveitei pra fazer a inscrição pro mestrado", acrescenta, como se mencionasse que comprou pão na padaria.
O fascinante é que essa mesma Carol, quando presenteada com um domingo inteiro livre, transforma-se numa especialista em procrastinação. Ela me conta que passa oito horas consecutivas no sofá, alternando entre episódios aleatórios de séries que nunca terminará de assistir, enquanto lamenta não ter tempo para organizar as fotos do celular.
"É que eu funciono melhor sob pressão", é seu mantra preferido.
E não é que funciona mesmo? Na última semana, faltando quinze minutos para uma apresentação crucial, seu computador decidiu fazer aquela atualização surpresa do Windows - sabe aquela que parece durar mais que a construção das pirâmides do Egito? Enquanto, no seu lugar, eu já estaria ensaiando as desculpas para a chefia, Carol pegou o notebook emprestado da colega, recriou vinte slides em dez minutos, chegou cinco minutos adiantada à sala de reunião e ainda teve tempo de… se maquiar.
"O segredo é não entrar em pânico", revelou depois, como se compartilhasse a receita de um bolo simples.
Sua fama de domadora do tempo já se espalhou pelo setor. O chefe, que costumava ser um tirano dos prazos, agora sorri quando ela promete resolver o impossível até o dia seguinte. Os colegas fazem bolão para adivinhar quantas tarefas extras ela consegue acumular antes do fim do expediente.
Outro dia, sugeri que ela consultasse um terapeuta para entender essa relação peculiar com o tempo. Não por preocupação, mas por pura curiosidade científica. Sua resposta? "Boa ideia! Vou encaixar entre a escrita do meu projeto e a aula de música. Deve dar tempo."
O mais intrigante é que, diferente de nós, mortais, que vivemos em constante batalha contra o relógio, Carol parece ter feito as pazes com o tempo. É como se eles tivessem um acordo secreto: quanto mais ele aperta, mais ela floresce.
Às vezes me pego imaginando se ela descobriu algum portal dimensional, desses que a física quântica tanto especula. Ou se talvez ela seja uma viajante do tempo disfarçada, estudando os hábitos dos humanos do século XXI.
Mas a verdade é mais simples e, justamente por isso, mais extraordinária: Carol é apenas alguém que entendeu que o tempo é como um parceiro de dança - não adianta lutar contra seus passos, é preciso aprender a conduzi-lo.
Enquanto termino meu café, já frio de tanto que filosofei, ela olha para o relógio e sorri: "Preciso ir. Tenho uma reunião em cinco minutos com o chefe."
"Mas são pelo menos vinte minutos de carro até o trabalho!", alerto, como se ela não soubesse.
"Exatamente", Carol responde enquanto pega a bolsa. "Tempo de sobra."
E parte, deslizando entre as mesas e carregando consigo seu mistério temporal. Einstein diria que o tempo é relativo. Carol diria que é questão de estilo.