12 de fevereiro de 2025

Cenas de domingo

Há algo de mágico nos domingos da infância, um encanto que teima em resistir ao tempo. Para mim, eles vinham embalados pelo ronco dos motores e pelo som inconfundível do "Tema da Vitória". A música ainda ecoa na memória como trilha sonora de um ritual que se repetia toda semana: o café da manhã cheirando a cuscuz e manteiga, a sala iluminada pela televisão, e meu pai, que parecia esquecer por algumas horas o peso da semana, sentado no sofá, com os olhos brilhando.

Depois de assistir à série sobre o Ayrton Senna, a febre do momento, veio à mente a lembrança de uma época em que a Fórmula 1 era mais que um esporte. Não era só carro ou velocidade, mas um espetáculo que parava o país, principalmente por conta de um homem que, durante muito tempo, representou o espírito de uma época. Sei que hoje em dia muitas coisas daquele período e daquela personalidade foram problematizadas, mas pelo menos no início dos anos noventa ficávamos felizes ao ver o capacete verde e amarelo do Senna brilhando na pista. Mesmo por trás do visor, ele parecia olhar para cada um de nós; com seu talento e sua obstinação, transformava cada corrida em um épico, e vibrávamos com cada uma de suas conquistas.

Eu me lembro bem da ansiedade que crescia no peito quando o Senna assumia a liderança. A casa, antes cheia de conversas, ficava em silêncio absoluto. A vitória não era apenas dele, mas nossa. Quando o hino tocava, e aquela música triunfante enchia o ar, o orgulho explodia em sorrisos.

Mas a memória tem suas armadilhas e, com a mesma intensidade que carrega a alegria, também preserva a dor. O dia 1º de maio de 1994 está gravado em mim como uma tatuagem que o tempo não apaga. Recordo exatamente o que fazia quando a câmera mostrou a batida. Um choque seco, sem trilha de vitória, sem festa. O silêncio na sala foi diferente, pesado, quase palpável. Meu pai balançava a cabeça, enquanto eu tentava entender por que ele não levantava do cockpit. A TV repetia a cena e, a cada repetição, o nó na garganta ficava maior.

Fomos jantar na minha avó e lembro que as crianças foram proibidas de ligar a televisão. Minhas irmãs, mais velhas do que eu, desobedeceram à ordem e, quando nos reencontramos, os olhos vermelhos e os soluços sem parar entregaram tudo.

Até hoje, quando ouço o "Tema da Vitória", uma mistura de emoções me invade. A melodia é um gatilho: traz o brilho de domingos ensolarados com os sorrisos pós-vitórias, mas também o frio daquela manhã cinzenta no circuito de Imola. Mesmo sem querer, as imagens voltam – a curva fatal, o capacete imóvel, os minutos de espera. O menino que assistia à corrida naquele dia ainda mora em mim, e é ele quem se arrepia, quem prende a respiração, quem deseja um final diferente.

Porque o menino que vibrou com Senna ainda vive dentro do homem que aprendeu com ele a não perder a capacidade de sonhar.