24 de janeiro de 2025

Falta intepretação (?)

Falta interpretação. Para entender certos filmes, séries, alguns absurdos cotidianos, algumas matérias até difíceis de ler pela falta de carisma da escrita de algumas pessoas enquanto jornalistas. Falta interpretação até a mim às vezes, é evidente; todo mundo, em algum momento, já errou, seja no momento da leitura de algum texto, seja pela pressa ou seja pela simples impossibilidade real de não entender. Particularmente, penso sobre isso faz tempo porque trabalho com texto, revisões, leituras críticas e edição de livros, ou seja, se eu falhar na interpretação, meu trabalho vai por água abaixo; por isso, falar sobre esse tema seja, pra mim, minimamente, complexo.

Esse tema me corroeu essa última semana por conta do episódio CPF na nota?, publicado pela Rádio Novelo que, a essa altura, acho que dispensa apresentação, não é? Mas, se alguém mais, como uma amiga próxima, estava dentro de uma caverna, sugiro ouvir o episódio e tentar compreender um pouco do que está ali para além da traição contada e sofrida.

Pois bem, diante disso tudo, e de tudo que foi dito em postagens dos envolvidos e de familiares, eu fiquei pensando em como a interpretação sofreu com o uso das redes sociais. É incrível pensar o quanto a internet nos aproximou, mas muito mais do ódio do que de qualquer outra coisa. Hoje, eu não me sinto mais próximo dos meus amigos, nem de familiares, parece que somos todos conhecidos e conhecidas que trocam apenas mensagens superficiais e enviamos coisinhas engraçadas ou matérias que nos dão medo como compartilhamento. Certamente, isso pode ser algo particular, mas digo isso porque em conversas aqui e ali encontro em outras pessoas esse reflexo do meu pensar.

Penso em como tudo se distancia e o ódio fervilha nas redes sociais, como as polêmicas é que chamam a atenção enquanto conteúdos importantes sobre diversas áreas e diversos temas ficam de lado, à margem, e preferimos consumir coisas engraças e saber de listas de tudo no mundo. Não se engane, eu caio nesse mesmo erro, não estou julgado você, mas a nós. E até isso, ultimamente, quando se pensa alto, no sentido apenas de TENTAR refletir nos coloca em uma posição de ódio, acredite se quiser.

Esses dias comecei a pensar, por exemplo, na nossa bolha. O quanto não falamos mais tanto de livros. O quanto não os comentamos. Ficamos presos a frases curtas e adjetivadas, pensando no tempo máximo de 30-40 segundos porque os algoritmos assim nos ensinaram que é o tempo necessário para alguém ter sua atenção retida e como podemos passar “nosso conteúdo” nesse tempo. Incorro, repito, no mesmo erro. Pensar em sair disso não é fácil e fico sempre pensando em como estar próximo ao público leitor, que gosta de livros, que ler por prazer sem ter que fazer vídeos com listas e etc. Será que não conseguimos mais nos concentrar definitivamente? Falamos que as crianças estão mais sujeitas, que isso atrapalha o desenvolvimento, mas tenho a mesma impressão que o nosso vídeo, dificilmente será extinto, exceto por algumas pessoas que baterei palmas porque sei que conseguirão.

Na minha cabeça, quando assuntos assim surgem - como do episódio em questão, focando na misoginia realizada por mais de uma dezena de homens, cis, brancos, héteros - me fazem pensar em que ponto estamos. Quando vejo o homem mais rico do mundo realizar uma saudação nazista e percebo que os jornais não conseguem admitir que ele realizou uma saudação nazista me pergunto em que pé estamos enquanto sociedade. Ver coachs, pessoas que acreditam apenas no mérito e na desigualdade social, me faz perceber que é complexo, no mínimo, viver. Não acho que viver deveria ser isso, como dizemos cotidianamente “a vida é isso”. Não acho. Não quero acreditar, mas talvez eu esteja errado, talvez seja isso, talvez mesmo “o inferno são os outros” e os outros sabemos quem são, somos nós.

Bem, até a próxima.
Nathan Matos