8 de janeiro de 2025

2025 começou, não foi?

Esperei que os sete primeiros dias de 2025 acontecesse para pensar em escrever algo. Certamente, não esperava que a Meta anunciasse o que anunciou a partir de um vídeo de seu fundador. O discurso, que espezinha América Latina, China e alguns países europeus, é voltado para informar que algumas diretrizes serão canceladas ou modificadas para que seus usuários tenham mais “liberdade”, uma vez que tais países estão “censurando” os debates, os discursos, as relações pessoais...

O que eles propõem é parar de realizar checagem de fatos e possibilitar que usemos quase qualquer palavreado ou maneiras de falar ou “opinar” sobre o que for e quem for. Dessa maneira, uma das maiores megacorporações do mundo se posiciona politicamente pela primeira vez. Isso porque realiza-se, assim, o que o trumpismo adora, criação terreno fértil para disseminação do ódio e criação e divulgação da fake news. A Meta agora é uma irmã dissimulada do X, mantida pelo egocêntrico Elon Musk.

São muitas a preocupações, seja com a questão da segurança online, seja dos conteúdos que chegarão até crianças e adolescentes e como isso tudo será recebido. Para além disso, uma preocupação ‘maior’ está sendo discutida entre criadores de conteúdo: a preocupação de que o Instagram, assim como o Facebook, seja bloqueado no Brasil, uma vez que a Advocacia Geral da União já se pronunciou, ao afirmar que nosso país “não é terra sem lei”.

Nesse caminho, parei para pensar, “como ficaremos?”. Enquanto editor, a primeira pergunta focada no meu segmento é “como iremos existir?”. Em um mundo que está absolutamente dissolvido na internet e nas redes sociais, como um país como o Brasil – que está entre os que mais utiliza as redes sociais e que mais gasta tempo de vida online – fará para que o comércio que existe hoje por conta do Instagram, principalmente, continue existindo?

Uma decisão de fechar as redes sociais em um país como o nosso terá absolutamente uma população inflamada gritando pelos seus direitos de continuarem ‘existindo’. Fiquei pensando como o mercado do livro em meio a isso tudo poderia sobreviver. Creio que seria um baque enorme, uma quebra possível em diversas editoras, os autores e as autoras, que até então conseguem se divulgar, mesmo que dificilmente e, muitas vezes, de maneira solitária, praticamente seriam apagados e apagadas do mercado, como se uma explosão tivesse varrido a tudo e a todos.

Talvez as newsletters passariam a ser o sustentáculo de muitas pessoas do mercado e de muitas editoras, os canais no Youtube ganhariam vida e os comentários aflorariam demasiadamente. Talvez as livrarias contratassem livreiros que poderiam a cada hora falar sobre um livro em seu canal, vender um livro como antigamente se venciam objetos eletrônicos, joias e gado (na verdade, esses canais ainda existem).

Uma “renovação” no marketing provavelmente aconteceria. Onde muitos de nós veríamos o problema, várias pessoas veriam como uma nova possibilidade de ganhar dinheiro, mais do que nunca precisaríamos mudar nosso mindset...

Tornamo-nos dependentes. Ao mesmo tempo, existimos sem saber como existir, ao ponto em que uma megacorporação tem o poder de comandar não apenas as nossas vidas, mas as nossas sociedades.

O impacto de um bloqueio dessas redes sociais, para além da quebra no mercado editorial, seria absurdo para o país. A economia seria fortemente abalada, praticamente em todos os setores. E eles sabem disso. Eles sabem que essa é a força que eles possuem. Por outro lado, todos os países que foram espezinhados pelo dono da Meta não devem se curvar, tudo isso é porque eles têm medo. São inimigos do pensar, do bem-estar. E é por isso que as pessoas precisam compreender o que acontece ao seu redor. Precisamos dialogar mais sobre política, compreender mais que nossos atos são políticos, nossas leituras são políticas, nossa forma de criar, de viver, é um ato político. Precisamos ler mais e respeitar mais. Não precisamos de uma falsa liberdade de expressão em um ambiente onde tudo provavelmente será aceito e nada será feito quando algo muito errado acontecer.