12 de setembro de 2024

Meu nome é Laura, de Alex Andrade

Escritor Alex Andrade.

Falar de Alex Andrade é sempre uma honra. Sem dúvidas um dos grandes escritores que temos na atual literatura brasileira, sempre apresentando em suas obras assuntos pertinentes que evocam personagens únicos e ao mesmo tempo que fazem parte de nosso cotidiano. Já li boa parte de sua obra, dentre elas "Antes que Deus me esqueça" - que ainda considero o seu melhor -, "Para os que ficam" e "Amores, truques e outras versões".

Recentemente o autor lançou o "MEU NOME É LAURA", pela Editora Confrafria do Vento, o qual, assim como o "Para os que ficam", eu tive o prazer de ler antes do lançamento. Na obra, em meio a um contexto de um país amplamente homofóbico e cheio de preconceitos dos mais variados existentes, Alex Andrade evoca um dos temas mais discutidos do mundo atual: a questão da sexualidade.

Pedrinho, um menino que nasceu em um ambiente desestruturado, repleto de julgamentos e, sobretudo, de desprezo, busca na aproximação com seu pai uma resposta - ou quem sabe um entendimento - de quem essencialmente ele é e de qual seu lugar no meio familiar e no mundo. A rejeição por parte da própria mãe e de seus avós maternos, religiosos ao extremo, o faz crescer em meio à diversos questionamentos, conflitos internos, vergonha e tentativas frustrantes de se encaixar ao padrão familiar tradicional defendido por eles. Para eles, Pedrinho é considerado até mesmo uma aberração, se podemos assim dizer; um filho que nasceu "errado" - principalmente depois de tudo que o casal atravessou antes do tão esperado nascimento.

Para construção da narrativa, o escritor volta no tempo e apresenta a história de Pedro (pai de pedrinho) ainda criança, quando crescera em uma família problemática, com um pai viciado em bebidas alcóolicas e excessivamente abusivo. Em decorrência dessas marcas temos uma criança que, quando adulto, se torna um pai com uma visão de mundo diferente de tantos outros, o qual cria empatia com os que sofrem ou sofreram devido às ações de seus próximos, e com o filho não poderia ser diferente.

Aqui, é importante enfatizar um ponto que chama bastante atenção no decorrer da obra: a presença constante do pai ao lado do filho (uma espécie de porto seguro). Normalmente, se tem o contrário, sendo a mãe o principal aporte nessas descobertas dos filhos, e a figura do pai como quem  despreza. Mas com Pedro é diferente: sempre presente, compreendendo todas as suas lutas e tentativas do filho de encaixar na sociedade em que vive - seja na escola, em casa, ou em quaisquer outros lugares que se visita.

Independente de todas as consequências que possam surgir, Pedrinho escolhe ser aquilo que gritava mais alto dentro de si. Escolhe ser quem ele realmente acha quem é. Escolhe ser o ser humano que muitos familiares e a sociedade não queriam que ele ele fosse.