18 de julho de 2024

Sigrid Nunez, novamente na Instante, com "Os vulneráveis"

Em novo livro, a autora estadunidense retrata amizades intergeracionais
e interespécies que são tão improváveis quanto importantes

O mais recente romance de Sigrid Nunez é uma narrativa ambientada em Nova York, nos primeiros dias do confinamento devido à pandemia de covid-19. A história é contada por uma escritora de idade avançada, que é considerada “vulnerável” e concorda em passar o início da quarentena no apartamento de uma amiga. Esta amiga está confinada em outro estado, deixando a narradora responsável pelo cuidado do papagaio Eureca, que ficou desamparado após o desaparecimento repentino de outro hóspede, um universitário da Geração Z. O jovem retorna inesperadamente, e os três, incluindo a ave, tornam-se companheiros de casa, enfrentando diversas tensões no processo. A evolução desses relacionamentos, tanto entre os humanos quanto com o papagaio, constitui o núcleo da narrativa.

Ganhadora do National Book Award em 2018 com o romance O Amigo, Nunez aborda o recente trauma coletivo com seu habitual humor e sensibilidade. Através de situações e personagens complexos, ela explora temas como a vulnerabilidade humana, a impermanência, a delicada beleza das conexões afetivas e a natureza da memória – ou seja, a vida em sua essência mais pura. Em meio a essa busca por significado provocada pela tragédia, Nunez oferece uma centelha de esperança: a literatura pode ser o refúgio onde encontramos sentido quando o mundo ao nosso redor parece estar de cabeça para baixo.

Destaques:

“Os romances de Sigrid Nunez são ideais: curtos, sábios, provocadores, engraçados — uma companhia boa e segura.”
— The New York Times

“[...] O livro de Nunez se desenvolve como uma meditação sobre o pesar e alcança o estabelecimento de conexões incomuns.”
— New Yorker Magazine

“Sigrid Nunez nos leva para caminhar dentro de uma cidade, uma pandemia, dentro da própria literatura. Com a inventividade e o magnetismo característicos, sob o signo de nossa inescapável vulnerabilidade, ela investiga questões espinhosas com a melhor — talvez única — arma possível: a ficção.”
— Natalia Timerman


Sobre a autora:

Słabsi" Sigrid Nunez. Czy też jesteś słabszy? Nunez późna i wspaniałaSigrid Nunez nasceu em 1951, em Nova York, onde ainda mora. Lecionou em instituições como a Universidade Columbia e a Universidade de Princeton e colabora para publicações como The New York TimesThe Wall Street Journal e The Paris Review. É autora de dez livros, dos quais a Instante já publicou os romances O amigo, em 2019, vencedor do National Book Award, e O que você está enfrentando, em 2021, e o livro de memórias Sempre Susan, em 2023. Suas obras já foram traduzidas para mais de 25 idiomas.

 


Leia abaixo um trecho do livro Os vulneráveis

“Era uma primavera instável.” 

Eu tinha lido o livro havia muito tempo e, com exceção dessa frase, não me lembrava de quase nada. Eu não poderia contar a você sobre as pessoas que apareciam na narrativa ou sobre o que aconteceu com elas. Não poderia contar a você (somente mais tarde, depois de ter pesquisado) que a história tinha início em 1880. Não que isso importasse. Só quando era jovem eu acreditava que era importante lembrar o que acontecia em cada romance que lia. Agora sei a verdade: o que importa é o que você experimenta durante a leitura, os estados de sentimento que a história evoca, as questões que surgem em sua mente, muito mais do que os eventos ficcionais descritos. Deviam ensinar isso na escola, mas não ensinam. Em vez disso, a ênfase sempre está naquilo que você lembrou. Do contrário, como se escreveria uma crítica? Como se passaria em um exame? Como se conseguiria obter formação em literatura?

Gosto do romancista que confessou que a única lembrança que permaneceu com ele depois de ter lido Anna Kariênina era o detalhe de uma cesta de piquenique apoiando um pote de mel.

O que ficou comigo todo esse tempo depois de ler Os anos foi o início, com aquela primeira frase, seguida por uma descrição do clima.

Nunca inicie um livro com o clima é uma das primeiras regras da escrita. Nunca entendi por que não.

“Clima implacável de novembro” é a terceira frase de A casa soturna. Após a qual Dickens famosamente fala sobre nevoeiro.

“Era uma noite escura e tempestuosa.” Nunca entendi por que essa frase foi universalmente reconhecida como a pior maneira de (esqueci quem: outra coisa para pesquisar) iniciar um romance. Desprezada por ser tanto desinteressante como, ao mesmo tempo, muito melodramática.

(Edward Bulwer-Lytton, originalmente, em um livro chamado Paul Clifford, em 1830. Outros depois, em zombaria, mais memoravelmente Ray Bradbury, Madeleine L’Engle e Snoopy.)

Pouco imaginativas era a expressão usada por Oscar Wilde para descrever pessoas para as quais o clima é um assunto de conversa. Claro, em sua época, o clima — o clima inglês em particular — era entediante. Não o evento bem mais errático e frequentemente apocalíptico pelo qual hoje as pessoas em todo o mundo ficam obcecadas.

É importante ressaltar, contudo, que não era do nevoeiro comum — vapor condensado, uma nuvem baixa — que Dickens falava, mas de um miasma causado pela terrível poluição industrial de Londres.

 

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