'como se dissesse água' é o novo romance de Franck Santos
Em uma novela/romance marcado pela delicadeza da lembrança, Franck Santos nos apresenta uma mulher diante da passagem do tempo: em seu aniversário de 60 anos, a anfitriã nos recebe para uma conversa sobre a finitude. É no dia de celebrar o próprionascimento que ela, uma escritora, se preparando para receber os convidados, se vê envolvida por uma teia indissolúvel de morte e memória.
'Dividindo o espaço com Laura, a empregada, que não chega a ter voz, mas tem presença, a narradora deste livro escreve porque lê: de Elizabeth Bishop a Deborah Levy, passando por Conceição Evaristo e Haruki Murakami, a fictícia escritora levanta questões que exigem que esse livro seja lido devagar (“o que mantém um amor?” “não vivemos para aprender a morrer?”) ao mesmo tempo em que, de modo quase ingênuo e divertido, se preocupa com questões ambientais e deseja que brownie de maconha e uísque sejam servidos em seu velório.
Ao modo de um fluxo de pensamentos, nossa protagonista ainda revela seu lado mais desagradável — de gritar com a diarista a supor que os traumas que deixou no filho único possam ser resolvidos em sessões de terapia — trazendo a tona a lembrança de que a literatura também compreende o lugar de evidenciar o que há de mais feio por dentro de nós.
Franck nos conduz numa narrativa entremeada por ausências: os convidados, Laura, as lembranças antigas de uma mulher que amou e foi amada. É pela metáfora dos ventos, das tempestades e dos naufrágios, que vamos explorando a vida dessa mulher que, tal
qual uma prima-dona, se acomoda desconfortavelmente em sua própria solidão.
Rute Ferreira
Franck Santos é autor maranhense, Professor de Geografia na SEDUC/MA, com alguns
livros publicados entre poemas e romances. “como se dissesse água” é a sua quarta prosa longa.