A noite do cordeiro, de Daniel Gruber
Fanatismo religioso, escravidão, inquisição portuguesa, bruxaria, terror, medo: eis alguns termos que pode ser utilizado para descrever o excelente romance gótico escrito pelo gaúcho Daniel Gruber.
Bahia, século XVII. Em um lugar nas entranhas do território, mais especificamente no sertão, um povoado composto por escravos africanos, povos nativos e europeus, reserva histórias, mitos e mistérios capazes de deixar o leitor com uma curiosidade exacerbada para virar a próxima página ou capítulo.
Gruber apresenta, dentre inúmeros personagens, três que chamam bastante atenção, visto que suas histórias se entrelaçam ao longo do romance: padre Vicente, enviado ao povoado para investigar a morte do padre antecessor; Mariana, uma menina que volta da mata muda e, segundo a população, possuída por espíritos das trevas; e Awa, uma escrava africana trazida para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar da região. A forma como Gruber desenvolve esses personagens ao longo da narrativa - cada qual com suas particularidades, lutas internas e histórias singulares – é um dos excelentes pontos positivos imposto na obra.
Interessante destacar a atmosfera criada. O intenso calor e a umidade da época do ano fazem brotar cenários agoniantes, principalmente quando tudo fica nublado, ou no momento que as precipitações de chuvas ocorrem. Essas condições favorecem o desenvolvimento de espetáculos cinematográficas capazes de causar arrepios em qualquer leitor.
O romance evoca reflexões principalmente ligadas ao fanatismo religioso e à bruxaria, temas que eram muito presentes na sociedade da época; tudo isso atrelado ao fundamentalismo surgido durante o período destacado no espaço que viria se tornar o Brasil. Aliás, a entrega histórica é bastante evidenciada, e conseguimos perceber o quão profundo Daniel foi –. Inclusive, temos uma excelente bibliografia no final da obra que apresenta justamente as fontes bases do autor para o desenvolvimento da trama.
DANIEL GRUBER é escritor e editor, natural de Novo Hamburgo (RS). Publicou quatro livros, entre contos e romances, todos pela sua editora, O Grifo. É autor de A floresta (2020), finalista do Prêmio Odisseia de Literatura fantástica, e um dos organizadores de O Novo Horror (2021), vencedor na categoria projeto gráfico no mesmo prêmio. A Noite do Cordeiro foi escrito durante seu doutorado em escrita criativa pela PUCRS.