Entre nós é o novo livro de contos publicado pelo nosso selo LiteraturaBr Editorial. Este é o primeiro do autor baiano Rafhael Peixoto. Na orelha da obra, pode-se encontrar parte do que ele propõe ao leitor:

já em seu título, a articulação entre a palavra e seus sentidos. Ao mesmo tempo em que diz de uma vinculação íntima, particular, entre dois sujeitos, deste universo que se compartilha com o outro, fala das implicações desta relação, dos nós que se estabelecem e se reconhecem a partir do que é social neste emaranhado que tecem as trocas humanas.

Abaixo, um trecho do conto "Éramos dois":

João amava Tereza, e, por amá-la, se levantou da cama aos poucos, buscando fazer o mínimo barulho possível para não acordá-la ao partir. O relógio de cabeceira marcava quase oito da manhã quando ele despertou ainda sonolento, o que significava dizer que precisaria sair com pressa. Catou as roupas amassadas da noite anterior pelo chão do quarto, aproximou-se dela, passando a mão por seus cabelos, e a beijou suavemente. Aquela seria a terceira vez só nas últimas duas semanas que chegaria atrasado ao trabalho, sabendo que seria necessário compensar seu chefe de alguma forma ou seu pescoço por fim sucumbiria à guilhotina. Malmente vestido, malmente acordado, procurou algo para comer na cozinha, achando apenas uns biscoitos secos que quebrariam o jejum, e saiu encostando a porta.

Tereza não acordou antes das onze da manhã, nem se espantou diante do vazio da cama, antes se espreguiçou, ocupando-a plenamente. Gostava da liberdade adquirida, do corpo leve que se espalha e relaxa, sempre fora assim, desde que se reconhecia como gente. Não demorou muito, alcançou o telefone no criado-mudo e pediu seu almoço, pronta para começar mais um dia. Fazia um tempo que seu café da manhã não existia e seu corpo já se acostumara àquela rotina. Quem não se acostumava com esse estilo de vida eram seus bolsos, sempre vazios. Seu salário, retirados os impostos e descontos em folha, servia apenas para essas despesas. Trabalhava para viver, mas só vivia realmente quando recebia o décimo terceiro e as férias e se dava aos pequenos luxos burgueses. No restante do ano, pagava comida pronta e não precisava se preocupar com o supermercado.

Quando ele bateu o ponto já eram nove e pouquinho. E eram esses pouquinhos cotidianos que o faziam em débito constante com a empresa em que trabalhava. Já havia sido chamado ao RH outras vezes, prometendo rever a questão, mas as desculpas não lhe faltavam. Era o trânsito, o tempo, o despertador que não tocou… Nunca dizia as pessoas o verdadeiro motivo de seus atrasos: Tereza. João a amava, e, por amá-la, encontrava-se refém de seus horários e desejos. Eram três da manhã quando ela chegou naquela noite, despiu-se e o devorou. Estavam habituados a fazer amor nas madrugadas, quando ela o despertava para o sonho.

Especificações
Editora: LiteraturaBr
Gênero: Contos
Número de páginas: 80
Valor: R$ 45,00 (frete gratuito para todo o Brasil durante período de pré-venda)
Pré-venda: 23/11 a 10/12

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