O abismo de São Sebastião, de Mark Haber
Um livro potente que traz profundas reflexões sobre a vida e, consequentemente sobre a nulidade dela, ou seja, sobre a supremacia da morte; mas é, também, uma obra que apresenta discussões referentes à amizade e obsessão. Aqui, somos apresentados a personagens incumbidos de extremas complexidades. Dois críticos que são fissurados pelo ‘O abismo de São Sebastião’, um quadro pintado no século XVII pelo holandês Hugo Beckenbauer, a qual, junto com outras duas de suas obras sobreviveram a um enorme incêndio, constroem uma gigantesca amizade. Além disso, eles compartilham da admiração pelo apocalipse, pela morte e pela arte que foi feita até 1906.
Para ambos, essa pintura é a mais perfeita já construída na história. Suas vidas giram em torno de uma dedicação de estudos sobre a determinada obra, e esses protagonistas, que antes tinham firmado essa forte amizade, veem tudo minguar devido às certas divergências sobre as artes de Beckenbauer, principalmente ‘O abismo de São Sebastião’, e sobre toda arte de forma geral. Para ser mais preciso, a amizade começa a definhar quando o narrador diz algo em uma determinada palestra sobre a arte, e que Schmidit desaprovou por completo ‘aquela coisa horrível’ que o amigo tinha exposto. Na voz do narrador “... trinta ou quarenta palavras no máximo, aparentemente o bastante para terminar (...) gloriosa amizade.” (p. 105).
Vale destacar que toda a história é narrada do ponto de vista de um dos protagonistas, sem que saibamos, em nenhum momento, o que o outro – no caso Schmidt – tem a dizer. Além disso, no decorrer do romance, somos apresentados à vida de Hugo, mergulhados em seu interior (ou o que de fato aparentava diante da análise de outros) e como, de alguma forma, sua vida fora contemplada nas obras, ou não.
Sem dúvidas uma das grandes obras contemporâneas que precisa ser lida por muitos admiradores da excelente literatura que é gerida. Haber é, sem tirar uma palavra sequer ‘um dos escritores excepcionais que temos na nova literatura mundial.’
TRECHO: “... a insípida banalidade da existência, dia após dia se arrastando na direção da morte ou, da mesma forma, se quedando perfeitamente parado e observando o avanço oculto da morte em sua direção, não importa. A crença em finais felizes (...) é o maior desserviço que a humanidade fez a si mesmo na história do mundo, pois essa crença foi inventada puramente para iludir, para desviar os olhos da verdade sem enfeites...” (p.127).
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DICA: 1984 Livros, o canal do YouTube, comenta sobre a obra: Assista Aqui
OUTRAS OBRAS DO AUTOR PUBLICADAS NO BRASIL: O Jardim de Reinhardt, publicado pela Editora DBA. ( Compre aqui ). "Escrito em um só parágrafo, como um monólogo febril, o romance de estreia de Mark Haber evoca clássicos como O coração das trevas, de Joseph Conrad, ao reconstruir uma viagem por vários
continentes até culminar na selva sul-americana, encerrando uma busca obsessiva por um homem desaparecido que possuiria o derradeiro segredo a respeito da melancolia." (DBA).