Luiza
A Luiza se foi – y em Madrid ficou o oco do espaço que ela ocupava nas calles, nos saraus, nas bibliotecas, nos cafés, nos teatros: já deu tempo de mapear esses vazios por aí. A Luiza se foi y deixou um último sorriso pendurado no metrô de Chueca, nuestro principio y fin. Antes da partida, uma fotografia para rever daqui a uns 30 años: a Luiza se foi vestida de vermelho, que também é a cor de quem guarda pedras aqui. Ela ia virando a esquina quando en sus manos nasceu uma notícia: a poeta voltou antes mesmo de ter ido, dividiu comigo a última palavra, aquela entalada no tempo, y a vida nos deu a oportunidade de uma segunda despedida.
Dois tchaus no ar. Agora sim, a Luiza se foi, eu pensei.
Mientras ela era engolida pela calle Gravina, eu olhava para o rojo da Luiza, contabilizando o que quedou em mim: muita poesia falada e escrita, a alegria pelo Jabuti de livro do ano, pessoas malucas de quem rimos tanto, a Lucília, que veio visitar a filha e ganhou um amigo, as idas y vindas entre espetáculos y restaurantes, o susto de viver (um por dia – por lo menos).
A Luiza se foi y quem ficou é a Luiza: o vazio que um cuerpo produz quando se afasta é preenchido com o que quero: quem fica decide, el que se queda elige. A Luiza se foi y pela primeira vez eu tive inveja do Brasil y de seus braços sempre-abertos. Abraço por perto foi o que ficou, Luiza: um cheiro de abraço que não sai das nossas roupas vermelhas y brancas. Cheiro é invisível, pero tem cuerpo, tem pedras guardadas, tem grito y palabra.
Você se foi y ficou. Poucas pessoas têm estes poderes: permanecer, perdurar, se expandeir, crescer – na ausência. As suas palavras todas (todas mesmo, Luiza) flutuam pelas ruas de Madrid, pelos cafés onde estivemos, pelos bancos dos teatros onde os nossos queixos caíam ao mesmo tempo, em balé de perplexidade.
Ainda bem: a vida não tem ciúmes do seu nome, Luiza, no tiene celos: você permanece y eso basta – hasta que deixe de bastar e o Atlântico vire um cisco.