O crime do bom nazista, de Samir Machado de Machado
Dificilmente eu leio algo relacionado ao mundo da ficção policial, mas quando mergulho nesse oceano quase desconhecido para mim fico impressionado como alguns escritores conseguem empregar uma narrativa ágil capaz de prender o leitor em cada parágrafo que está sendo posto. O escritor brasileiro Samir Machado de Machado consegue entregar isso e ir além. O autor (que escreveu Tupinilândia – livro que quero ler a séculos e ainda não tive o prazer porque simplesmente não o tenho) conseguiu construir em ‘O crime do bom nazista’ uma eletrizante e contagiante história. Mesclando entre fatos históricos e ficção, o que é posto é uma tessitura de acontecimentos e mistérios que nos leva a ler a próxima página para ver o que de fato está ocorrendo.
Acompanhamos um crime que ocorre dentro do dirigível alemão conhecido como LZ 127 Graf Zeppelin em pelo território brasileiro. (Para quem não sabe, o Zeppelin foi um dirigível que realizou diversas viagens pelo mundo entre a Primeira e a Segunda Guerra. No Brasil, por exemplo, ele desembarcou pela primeira vez em 1930, em Recife, aonde 15 mil pessoas assistiram ao evento de recepção do gigante que voava pelo ar.) É exatamente no Zeppelin que praticamente toda a história acontece. O crime precisa ser desvendado sem alardes nenhum, visto que, tanto a companhia como o governo alemão em ascensão poderiam sofrer consequências pelo ocorrido. No decorrer do processo de condenar quem praticou a ação, os suspeitos são interrogados de forma que a notícia não possa se espalhar. O que temos logo em seguida são tomadas de decisões um tanto que surpreendentes. Nas últimas páginas, somos presenteados com o retorno a um momento bem antes da viagem se iniciar na Alemanha, fatos que desvendam qualquer dúvida deixada até então para quem está afogado na narrativa.
Samir enfatiza o recente momento da conjuntura político-social brasileira ao mesmo tempo que traz à tona o crescimento do nazismo na Alemanha e suas atrocidades em seu território e os planos no mundo afora, mostrando que existem/existiam, no mínimo, por assim dizer, relações entre as duas ideologias. É incrível como o autor conseguiu abraçar a história, a ficção e o momento recente para construir um romance que grita para que a sociedade abra os olhos.
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Curiosidade: A canção “Geni e o Zepelim”, composta por Chico Buarque em 1978, apresenta um trecho referente à chegada do Zeppelin no Brasil. A letra faz menção à chegada do dirigível em Recife com os canhões apontados prontos para atacar. Em meio à perturbação dos habitantes, o comandante muda de ideia quando percebe a presença de Geni - prostituta que era segregada pela sociedade, mas que era cobiçada por muitos -, fato que o faz mudar de ideia se por acaso naquela noite a formosa dama vier servi-lo. O que podemos perceber nessa música, é que Geni, desprezada pela sociedade, é responsável pela salvação de todos.
Música “Geni e o Zepelim”, na voz de Chico Buarque, no DVD ‘Carreira’: https://www.youtube.com/watch?v=jWHH4MlyXQQ