Canción, de Eduardo Halfon
Eduardo Halfon é guatemalteco nascido na Cidade da Guatemala. De família judaica de origens levantinas e da Europa do Leste, mudou-se aos dez anos para os Estados Unidos. Formado em engenharia, foi professor de literatura. Vive nos Estados Unidos, embora viaje com frequência à Guatemala.
Sua obra tem sido celebrada por diversos países, tendo sido escolhido um dos 39 melhores autores latino-americanos com até 39 anos pelo Hay Festival de Bogotá (2007). Recebeu o prêmio francês Roger Caillois de Literatura Latino-Americana (2015) e esteve entre os finalistas do prêmio hispano-americano de contos Gabriel García Márquez (2016). Sua obra foi traduzida para inglês, alemão, francês, japonês, croata, polonês, sérvio, holandês e português.
Canción é seu terceiro título publicado no Brasil. Por aqui também se encontra O boxeador polaco, lançado em 2014, pela ótima coleção Otra lingua da Editora Rocco, e; Luto, lançado em 2018, pela Mundaréu.
Sinopse
Cidade da Guatemala, uma manhã fria de janeiro de 1967. Em um evento da guerra civil guatemalteca, o comerciante judeu libanês Eduardo Halfon é sequestrado próximo a sua casa. Anos depois, o escritor guatemalteco Eduardo Halfon, disfarçado de libanês em Tóquio, repassa sua infância na Guatemala dos anos 1970, a emigração de seu avô materno do Oriente Médio, o fato de ele próprio não ser mais sequestrável e a participação de um açougueiro na guerrilha para elucidar passagens da vida de seu avô e da história recente de seu país, em que vítimas e carrascos se confundem.
Com Canción, Halfon dá continuidade a seu projeto literário envolvendo memória e identidade, em um romance no qual o eu é apenas uma peça de um quebra-cabeça.
O que achei
Em Canción, Halfon traz num registro memorialístico um dos momentos de tensão da história recente da Guatemala. A partir de arquivos, memórias e encontros vai recontruindo a trajetória de seu avô libanês que não era libanês, e do episódio de seu sequestro pela guerrilha guatemalteca.
A narrativa não linear e intercambiada vai costurando, com exímia habilidade e fluidez, percepções, reflexões e reconstruções entre o avô, o país, o narrador e sequestradores.
Nesse processo de reconstrução há igualmente um processo de reconstrução identitária. Alguém buscando compreender seu lugar no mundo. Isso fica evidente quando o narrador se encontra em Tóquio para um encontro de escritores libaneses, mesmo sendo guatemalteco vivendo nos Estados Unidos e neto de um libanês que não era libanês.
O deslocamento imposto por guerra ou ditadura impõe esse lugar demarcado por não reconhecer-se de onde veio ou de onde vive.
Halfon consegue com destreza, uma escrita agradável, econômica e eficiente construir a confusão em que seu narrador se encontra.
Não é um livro com apelo, frases empolgantes para destacar e colocar na legenda de uma selfie, mas mantém uma cadência lenta, tensão constante e fluidez para peça a peça revelar uma paisagem, uma fotografia de um momento específico de sua família, de seu país e de sua história.