5 de dezembro de 2022

José Paulo Netto retoma em Da Erótica: muito além do obsceno

Um dos maiores estudiosos do marxismo no Brasil, José Paulo Netto retoma em Da Erótica: muito além do obsceno, seu talento igualmente reconhecido de crítico literário. Na obra, além de selecionar e organizar o material, apresenta ao leitor, em um alentado ensaio, o universo da vida e da arte de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, autor português do século XVIII. Sua seleção e comentários destacam o aspecto libertino do controvertido poeta, sem deixar de ressaltar sua qualidade literária, cada vez mais reconhecida, que lhe garante lugar seguro entre os clássicos da literatura portuguesa.

A apresentação consiste assim em um ensaio de fôlego que estabelece uma linha histórica da literatura portuguesa da época, situando nela o poeta, sua vida e sua obra. E de quebra exibe, nas muitas notas de rodapé, uma profusão de informações por si só igualmente interessantes, compondo um variado e valioso painel. Complementam a edição uma cronologia relativa ao poeta português, referências bibliográficas e um útil índice onomástico.

“A compilação que José Paulo Netto organizou oferece os textos quiçá mais relevantes desse caminho, incluindo obras maiores da poética bocagiana, também alguns dos seus atrevimentos pícaros, discutindo nuns casos a autoria, noutros garantindo a origem, sempre comentando e ilustrando aqueles versos com notas detalhadas, sem as quais nos perderíamos no labirinto de alusões e diversões do poeta”, escreve Francisco Louçã no prefácio da obra.

Já Netto afirma em sua apresentação: “Penso que Bocage deve ser abordado, explicado e compreendido como um libertino [...] – e notadamente sua erótica (mas não só ela), na sua essencialidade, como amostra privilegiada e mais expressiva da concepção libertina possível no Portugal da última década do século XVIII. Resumindo, tenho a erótica bocagiana como exemplar privilegiado e ímpar da literatura libertina portuguesa do seu tempo”.

Fruto de rigorosa pesquisa documental, Da erótica é uma seleção admirável dos textos de Bocage, acompanhados de um texto de apoio que, ao mesmo tempo que o desvenda para o leitor, salienta sua inegável condição de autor clássico.

Trecho

“É mais que necessário atentar para as diferentes formas de gratificação, simbólicas ou não, dos sujeitos envolvidos na produção/difusão do que então se passou a considerar “pornografia” – que se desenvolveu, em todos os seus sentidos, com a profissionalização do escritor sob o capitalismo a partir da mercantilização do seu ofício e a sua progressiva e imparável inserção numa específica divisão social e técnica do trabalho.”

“Na sua boca Vênus faz morada,
Nos olhos tem Cupido as setas posto,
Nas mamas faz lascívia o seu encosto,
Nela, enfim, tudo encanta, tudo agrada.”

Ficha técnica
Título: Da Erótica: muito além do obsceno
Autor: Manuel Maria de Barbosa du Bocage
Seleção, organização e apresentação: José Paulo Netto
Prefácio: Francisco Louçã
Orelha: Cristhiano Aguiar
Capa e projeto gráfico: Maikon Nery
Crédito das ilustrações: Tinus van Doorn
Páginas: 272
Formato: 14 x 22,6 cm
Preço: R$ 75,00
Encadernação: Brochura
ISBN: 978-65-5717-200-1
Editora: Boitempo
Ano de lançamento: 2022
Disponível em: 8 de dezembro de 2022

Sobre o organizador

José Paulo Netto, Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de honoris causa recebidos na América Latina e na Europa, é conhecido pelo seu trabalho como ensaísta e tradutor na área das ciências sociais. Para a Boitempo, organizou antologias e edições de autores clássicos e publicou recentemente Karl Marx. Uma biografia (2020). Iniciou-se, porém, na imprensa de Minas Gerais, nos anos 1960, como crítico literário e estudioso da estética. Depois de seu retorno (1979) de anos de exílio, só episodicamente exercitou a crítica literária. O longo ensaio que abre esta antologia de Bocage marca o seu regresso ao trato das questões da história da literatura.

Sobre o autor
Bocage (1765-1805) foi um importante poeta português do século XVIII, considerado o maior representante do Arcadismo e o precursor do Romantismo. Junto com os poetas Camões e Antero de Quental, forma o trio dos maiores sonetistas líricos da literatura portuguesa.