Movimento 78, de Flávio Izhaki
Um dos temas que divide opiniões atualmente é sobre Inteligência Artificial (IA) e os fins que ela é utilizada. Nessa obra, o autor coloca no centro da discussão esse assunto tão complexo, criando uma trama que envolve dois candidatos à presidência do país, sendo que um deles é uma IA.
Estamos em meados do final do século XXI, tempo em que a tecnologia é mais aceita do que os pensamentos dos humanos; tempos em que pesquisas de telespectadores, das quais os resultados são obtidos através de cálculos matemáticos em poucos segundos, fazem parte do cotidiano, e as hashtags movem os assuntos mais comentados do momento. Tempos em que tudo muda de perspectiva em questão de segundos.
A arte, o esporte, a educação, as compras, as vendas, o tratamento de doenças, a política, as guerras e vários outros pontos são destacados no livro, nos fazendo pensar sobre até que ponto um computador e seus cálculos podem ir. Muitas vezes o leitor se pegará lendo os capítulos como se fossem ensaios e contos, mas que se complementam, claro, para formar esse curto e poderoso romance. A escrita do Flávio é ágil, simples e reflexiva, e os diálogos – todos, sem exceção - bem construídos.
No trecho abaixo, por exemplo, uma resposta do candidato humano à IA ao ser questionado sobre o que um ser humano pode fazer melhor do que uma Inteligência:
“... O que o ser humano pode fazer melhor do que uma inteligência artificial... amor é uma condição humana (...) Viver. Na sua plenitude sinuosa de quedas e deslumbres. Na beleza da vida, da relação com o próximo, no carinho, na amizade, no afeto, na raiva. O que uma inteligência artificial faz pode ser perfeito ao modo deles, mas não na vida.” (p.104).
Izhaki nos faz refletir sobre a capacidade de que o ser humano tem de guardar memórias – como por exemplo sorrisos, dores, angústias, perdas, alegrias – para sempre. Coisas que, realmente, uma IA não pode, abrindo, assim, margem para que nada disso seja levado em consideração por uma máquina.
É um livro que todos deveriam ler. Serve como porta de entrada para reflexões e críticas sobre as máquinas e humanos. Além, claro, de ser uma excelente obra da literatura brasileira contemporânea.