Língua, cultura e história: o português brasileiro como janela para descobrir quem somos, como somos e como falamos
Em novo livro, Rodrigo de Castro Gomes vai além dos aspectos formais da língua brasileira para investigar a vasta riqueza social e cultural do país
Quanto da identidade e da cultura de um povo está vinculado à sua língua? No Brasil, país de origens tão plurais, construiu-se uma língua portuguesa ímpar que reflete hábitos, valores, conhecimentos, expressões artísticas e filosóficas de uma cultura miscigenada. Será que a linguagem determina o pensamento humano? Qual o papel da língua em nossa percepção de mundo? São algumas das reflexões levantadas em “Língua e cultura brasileiras: suas inter-relações e particularidades”, mais nova publicação do professor, músico, produtor e autor Rodrigo de Castro Gomes. O livro, lançado pela Editora Intersaberes, fica disponível para compra em todo o Brasil a partir de novembro.
Relatividade linguística
O caminho natural da linguagem é acompanhar a cultura, atendendo às necessidades comunicacionais de uma sociedade em constante transformação. A cultura evolui, modifica-se; a língua se altera como parte integrante deste organismo. Desde 1920, estudiosos investigam a inter-relação entre língua, cultura e pensamento - teorias como a hipótese Sapir-Whorf da Relatividade Linguística sugerem algumas explicações. “A hipótese propõe que as línguas fazem recortes distintos da realidade, ou seja, não contém os mesmos conceitos e significados, apenas com nomes diferentes. Os próprios conceitos e significados são diferentes, como parte da cultura entender e se relacionar com as coisas”, explica Prof. Rodrigo Gomes.
O autor exemplifica tal inter-relação através do povo indígena Pirarrã, da Amazônia (Brasil), que não tem palavras para se referir a números exatos - apenas para conceitos gerais de quantidade, como “poucos” e “muitos”. Ou ainda o povo Hopi do Arizona, Estados Unidos, que não tem palavras para exprimir o conceito de tempo; as ações são tratadas simplesmente como “concluídas” ou “não concluídas”. “A partir de exemplos como estes, os estudiosos Sapir e Whorf começaram se questionar se a cognição da pessoa estaria sujeita aos conceitos da língua, ou seja, se a língua teria uma influência sobre o pensamento humano”, contextualiza prof. Rodrigo Gomes. O primeiro dos seis capítulos do livro se dedica à reflexão sobre língua e cultura, explorando hipóteses linguísticas e antropológicas sobre a capacidade que a língua tem (ou não) de modelar o pensamento.
Regionalismos, norma culta e preconceito linguístico
Com mais de 213 milhões de habitantes em um território de dimensões continentais, o Brasil descende de dezenas de nacionalidades e dá origem a uma pátria nada homogênea. A língua portuguesa não é a única falada no país, nem mesmo a única oficial - além da Língua Brasileira de Sinais (Libras), cerca de outras 180 línguas indígenas são faladas hoje, regionalmente. Existem, ainda, diversas variações do idioma dentro da própria língua portuguesa padrão. “A diversidade linguística é um reflexo da diversidade cultural, da miscigenação e fusão de culturas que aconteceu no país. As variedades linguísticas preservam registros dessa fusão e riqueza cultural, e ao mesmo tempo são parte desse patrimônio e riqueza cultural. Em cada variedade da língua estão modos de ser e fazer próprios da cultura que a formou”, comenta o autor.
Sotaques e regionalismos são, por vezes, equivocadamente classificados como erro. “Boa parte desse embate se deve à escolha de uma norma lusitana para a definição do padrão brasileiro, que não reflete a realidade linguística nacional, e que, na prática, nunca foi totalmente seguido”, explica o professor. A confusão do uso da língua escrita com o uso da língua falada fundamenta uma forma exclusivista de lidar com a norma padrão da língua, que invalida as variedades regionais e acaba por marginalizar certos grupos - como se não soubessem falar sua própria língua materna. “A discriminação com certos sotaques prejudica os falantes. Há conflitos e divisões entre pessoas e o afastamento da própria língua materna como parte da identidade nacional. Revela-se o disfarce de um preconceito social através do preconceito linguístico, respaldado por uma suposta gramática normativa”, analisa Rodrigo Gomes, sobre os perigos do preconceito linguístico.
Música Popular Brasileira: língua, cultura e identidade
A música é uma expressão artística que carrega não apenas sons e ritmos, mas frases e versos. Há pelo menos um século, o português brasileiro se expressa e se enriquece por meio da música popular brasileira. “A MPB é parte da história do povo brasileiro, carrega em si uma diversidade de elementos culturais, como formas de pensamento, de sentimento, de crença, de relacionamento, de pertencimento e identidade do povo brasileiro”, pontua o autor. Com ginga, malícia, poesia e profundidade, são canções que registram a interação do povo brasileiro com sua língua e sua história.
Além de valiosa contribuição ao patrimônio cultural mundial, a música brasileira ainda permite interessantes interpretações sobre linguagem e expressão verbal no Brasil. “A música popular brasileira contém em si elementos linguísticos, conteúdos textuais, que demonstram formas de uso da língua, em seu contexto e época de produção. Ela carrega também parte da história da língua”, salienta Rodrigo Gomes. Em sua mais recente obra, prof. Gomes dedica o sexto capítulo à análise do samba, da bossa nova e da MPB enquanto elementos influenciadores do comportamento e das formas de pensar, sentir e agir de seus admiradores.
O livro “Língua e cultura brasileiras: suas inter-relações e particularidades” é uma pesquisa que busca aproximar o brasileiro de sua língua e sua cultura - passando, também, por temas como as diferenças entre o português brasileiro e o português europeu, e os traços da personalidade brasileira que se traduzem na linguagem. “São expressões de muitas gerações de diferentes povos que se uniram em contextos complicados, mas que conseguiram cristalizar na língua, na música, na cultura os seus valores, sua beleza, sua inspiração que geraram estilos, características únicas, admirados em todo o mundo”, sintetiza o autor. Uma leitura acessível, recomendada aos acadêmicos da área de Letras e a todos os demais interessados no assunto.
Sobre o Autor
Rodrigo de Castro Gomes é especialista em Tecnologias para a Educação Profissional pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e graduado em Letras pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Foi professor de inglês e de português para estrangeiros em escolas e empresas. Atualmente, é professor de espanhol na educação corporativa e docente do curso de Letras EaD da Uninter. Rodrigo também é músico, produtor e arranjador, responsável pela produção de dois discos completos e várias canções independentes.
Livro: Língua e cultura brasileiras: suas inter-relações e particularidades
Autor: Rodrigo de Castro Gomes
Número de páginas: 304
ISBN: 9786555171044
Formato: brochura
Dimensões: 1.6 × 14 × 21 cm
Preço: R$121,60
Editora: Intersaberes