Quando meu pai se encontrou com o ET fazia dia quente, de Lourenço Mutarelli
Falar sobre a genialidade dos quadrinhos do Mutarelli é, na maioria das vezes, um clichê. Que ele desenha perfeitamente - com traços únicos - e que desperta através das imagens muitos questionamentos, disso ninguém tem dúvidas. Para quem já apreciou as obras "Diomedes" e até mesmo "O grifo de abdera" sabe do que estou falando. Os traços caóticos se ordenam quando se olha atentamente os detalhes da representação. Em "Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente" tudo isso impera. Nessa obra em destaque, o visual é o ponto alto.
Com poucas palavras e muitas imagens, Mutarelli traz a voz do filho-narrador ao contar os dias de luto de seu pai, principalmente sobre um dia em que ele se encontra com um ET durante uma pescaria com o irmão.
Será se há vida/sentido depois que a pessoa que a gente mais ama e nos completa não existe fisicamente no mesmo mundo que nós? Depois que sua esposa morre, sem acreditar o personagem rir em frente ao corpo sem vida porque acha que se não acreditasse naquilo ela pudesse aparecer a qualquer momento.
Mesmo com poucos textos, Lourenço cria uma atmosfera de interpretação absurda. Se o personagem principal ficou louco depois que sua esposa morreu ou se, de fato, avistou os extraterrestres, talvez isso nunca saberemos.
Algo muito comum nas obras do autor é a presença desses personagens que mantém uma loucura ou/e conexão com o mundo sobrenatural - isso a gente percebe em "Nada me faltará", "O filho mais velho de Deus e/ou o livro IV" e em "A arte de produzir efeito sem causa". Uma coisa é certa: os alienígenas talvez sejamos nós próprios. Isso eu conclui no final da obra. Para tanto, tive que voltar algumas páginas.
Terminei a obra de igual forma com como o filho-narrador: "Não acredito em nada disso, mas confesso que passei a olhar para o céu com mais frequência e com muito mais atenção."
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ASSISTA: Metrópolis - Entrevista com Lourenço Mutarelli