Quem é Justin?
A HQ Justin revela a história de luta LGBTQIA+ pelo respeito e reconhecimento
Você sabe quem é Justin? Ao ler a HQ o leitor vai conhecer a história de uma luta pelo reconhecimento de quem a personagem representa. Justin é uma menina que se identifica como menino. Mas a história não começa nem termina por aí. Conhecer pessoas é sempre um convite a se interessar pelo que ela é.
O que está por trás dessa minha pergunta é perceber o quanto não conhecemos verdadeiramente quem são as pessoas ao nosso redor, mas pelo que elas têm, seja status, emprego, bens materiais e sexo. Nossa sociedade é o tempo todo taxativa quando o assunto é identificar e reconhecer a pessoa pelo que ela apresenta fisicamente ou “objetualmente” falando, e não como ela quer ser tratada. Muitas vezes falta a iniciativa de buscar informações ou até mesmo procurar perguntar as pessoas quem elas são. O que ocorre são julgamentos de antemão pelo que se vê nela, esses julgamentos muitas vezes se transformam em preconceitos.
A narrativa relata uma história de uma jovem que passa pelo processo de auto-aceitação, e as dificuldades de ser aceita pela família e pela sociedade. Ainda pequena, Justine já sabia que não se identificava com o gênero sexual do qual nasceu. Desde cedo ela sempre manifestou que não se identificava como menina, ou seja, ela não tinha problemas de identidade de gênero, se para ela isso estava muito claro, o problema era quem não a enxergava como um menino. E então, Justine enfrenta dificuldades em casa para que os pais a aceitem. Na escola a divisão entre dois grupos, meninos e meninas, era outro empecilho e não para por aí. Até mesmo em terapias tratavam-na como uma jovem que precisava de tratamentos corretivos.
De modo geral a HQ mostra o quanto o universo da criança é imposto pelos adultos que seguem o padrão ditado socialmente. Uma sociedade em que se briga pela liberdade de se expressar e ser o que é, ao mesmo tempo é a mesma sociedade que julga e impõe regras. Até as crianças que deveriam viver livres para pensar e perceber as coisas ao redor. A sociedade adentra de forma usurpadora na infância e a molda para que as crianças cresçam adaptadas ao que “socialmente se espera” de um indivíduo em sociedade ou na verdade o que a sociedade quer ver.
Os traços antropomorfizados de Justine demonstram que há muitos como ela na mesma situação, universaliza um sentimento de luta e que ao mesmo tempo tenta não se definir ao leitor estigmatizando traços femininos ou masculinos à personagem.
A HQ tangencia as questões sobre identidade de gênero, mas não aprofunda o suficiente a deixar claro para o leitor que a questão entre gênero e sexualidade são diferentes. A narrativa proporciona uma leitura rápida e fluída, exatamente por essa lacuna. Apresenta situações circunstanciais de uma pessoa transgênero enfrenta dentro de casa e em ambientes sociais.
Sobre a autora
Formada em Ilustração na École des Arts Décoratifs de Strasbourg, Anne-Charlotte Gauthier trabalha como ilustradora para a imprensa e editoras infantojuvenis, e realiza, paralelamente, diferentes projetos de histórias em quadrinhos, publicadas pelas editoras Misma, 6 pieds sous terre e Delcourt. (Fonte: site Editora Nemo)