Um amor não só para recordar
Mais novo quadrinho de Fabien Toulmé lançado pela Nemo, Suzette, traz uma história de amor
Acabamos de passar pelo dia dos namorados, 12 de junho, um bom motivo para falar de um quadrinho cujo tema central é sobre o amor. O curioso nessa data são postagens nas redes sociais de pessoas celebrando seus relacionamentos. Quantas vezes na família ouvimos histórias e casos de amores antigos, amores proibidos que de alguma forma se realizaram.
A narrativa começa com o enterro do marido de Suzette, Bernard. Neste começo, podemos perceber algo diferente em Suzette, quando todos preocupados com sua viuvez, ela responde para tranquilizá-los: “Não consigo nem ficar triste.”
Em Suzette, temos a história de uma recém viúva, que nos seus 80 anos, tenta tocar a vida, porém sozinha e às voltas com os cuidados da casa, fica sem saber como manter o jardim que seu esposo manejava com esmero.
Sozinha em uma casa vazia, sem a companhia de quem compartilhou uma vida, ela passa a ter a companhia da neta Noémie, que começa a frequentar a sua casa. A aproximação entre as duas aumenta cada vez mais. Entre lembranças e visitas regadas a almoços, jantares e cafés com a sua avó, Noémie compartilha as alegrias de uma primeira experiência de vida a dois ao dividir o apartamento com seu namorado.
Além da neta, Noémie tem a vizinha Simone, também viúva, moderna e adora curtir sites de relacionamentos para conhecer novos namorados. O que para Suzette é algo muito moderno para sua idade.
Na rotina diária de Noémie e Hugo, um desgaste acaba abalando a relação dos dois. A ideia de vida a dois concebida por Noémie é diferente de Hugo. Para ele essa relação tem que respeitar a sua individualidade e liberdade, e morar juntos significa apenas dormirem sob o mesmo teto que ela. Já para Noémie a vida a dois é compartilhar muitos momentos juntos abrindo mão até mesmo de suas individualidades, o que para Hugo se tora um complicador.
Noémie chateada com o comportamento do namorado, resolve fazer uma viagem com a sua avó para conhecer o lugar onde ela se apaixonou por um rapaz quando eram jovens. A aventura das duas dá início a uma saga em busca do paradeiro do grande amor vivido por sua avó antes de se casar com Bernard.
Ao longo da viagem muitas histórias e lembranças fazem Suzette voltar ao tempo, com isso o reencontro se torna inevitável e de novo ela se vê com o mesmo sentimento. Nunca é tarde para se apaixonar de novo, para viver um grande amor e recomeçar uma história.
Esse quadrinho suscita no leitor o desejo de recordar grandes amores ou paixões. E Toulmé nos brinda com a mesma maestria de seus quadrinhos anteriores, com muita delicadeza, tocar em temas inerentes aos sentimentos, à emoção e a sensibilidade. Aborda o luto, relacionamentos, tabus, relações efêmeras e líquidas na modernidade, experiências compartilhadas entre duas gerações, sexualidade etc.
Na página 25 dois personagens aparecem em primeiro plano no último requadro que são os dois irmãos da HQ Duas Vidas do mesmo autor. Uma interessante referência para quem já conhece os trabalhos de Toulmé.
A HQ não tem a mesma profundidade que as anteriores do autor já publicadas pela editora, mas aborda várias questões que valem muitas discussões inclusive uma passagem na HQ toca no assunto do machismo.
Um quadrinho contemporâneo que exalta a terceira idade sem perder a essência e o respeito pela cultura adquirida pelos idosos no passado sobre modos e costumes tradicionais.
O que Suzette encontrou nessa jornada? Só lendo pra saber o final dessa história.
A HQ publicada pela Nemo em formato brochura, capa mole e miolo colorido de 335 páginas. Apesar do volume grande, a leitura é suave e pouco dinâmica.