Um amor material e seletivo
Neste exato momento ocorre a 81ª Feira do Livro de Madrid, um dos maiores eventos literários da Europa. Considerando a desproporção entre o meu tempo livre e o tamanho da festa, a cada dia vou e vejo uma parte da Feira. Também por isto, o passeio consiste basicamente em: buscar novidades e títulos específicos (sobretudo poesia), conhecer editoras e – a melhor parte! – falar com as pessoas que dinamizam o mundo dos livros e da literatura na Espanha.
Ao longo do meu lento percurso, encontro mulheres e homens dispostas e dispostos a explicar e compartilhar um novo livro, um/a poeta interessante, uma nova proposta editorial. Por exemplo: conheci um projeto dedicado somente a fazer antologias poéticas em edições produzidas a mão; outra editora que vi produz livros de ensaios com um trabalho gráfico irrepreensível; reencontrei uma editora que publica apenas trabalho sobre edição (uma maravilha!!!). Além disso, várias escritoras e escritores lançam os seus livros no evento e ali mesmo fazem uma sessão de autógrafos (algumas filas com muitos fãs, outras com menos; e outros escritores sem nem uma mosca a quem oferecer dedicatória... a vida é assim mesmo!).
Portugal também está na Feira com um stand consideravelmente grande para ser ocupado por uma só editora (!), a Snob (pelo menos o nome faz jus à presença exclusiva da empresa). Entre títulos antigos e novos, edições belas e belíssimas, conversei com os livreiros sobre a dificuldade de encontrar obras em português aqui pelas bandas de Madrid. Concordamos no seguinte: embora sejamos vizinhos ibéricos, há entre nós um abismo editorial enorme, uma má vontade para fazer com que os livros circulem de lá para cá – é claro que tudo isso também passa pela viabilidade financeira, então deixo claro que falo a partir da percepção individual e do puro ressentimento.
Comprei alguns livros em português, outros em espanhol e mais da metade do que eu gostaria de trazer comigo continua na Feira. Como o tempo, o dinheiro também não sobra e, por isso, muitos livros que desejo permanecem parados nas bancas de várias editoras — flerto muito com eles, mas, no final, o amor é material e seletivo.