24 de março de 2022

Outra novelinha russa, de Gonzalo Maier

A Guerra Fria foi um momento histórico no qual duas superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial – Estados Unidos, capitalista, e União Soviética, socialista – disputavam a soberania no globo disputando de forma política, econômica, bélica, tecnológica e ideológica. O final desse conflito foi marcado pela derrota do bloco soviético para o modelo econômico e político do ocidente. Após isso, a União foi totalmente desmembrada, e a Rússia, principal país, assim como os demais, mergulha numa profunda crise no início de 1990.

É justamente para essa Rússia do pós Guerra Fria, que o personagem Emanuel Moraga, da obra “Outra Novelinha russa” deseja viajar. Chileno aposentado, ex-funcionário da prefeitura, viúvo de sua amada Pamela, e do qual o filho não é próximo, quer simplesmente rumar para Moscou com o objetivo de vencer os russos jogadores de xadrez -  seu sonho, despertado há muito tempo -, considerados por muitos os melhores do mundo.

Depois de comprar as passagens, vender sua casa, e arrumar uma pequena mala, Moraga deixa tudo para trás e parte para o desconhecido mundo gelado que ele apenas conhecia por revistas, jornais, documentários e reportagens. Ao chegar em Moscou, percebe os diversos problemas impressos nas paisagens: pobreza, desorganização, filas gigantes de pessoas para comprar alimentos, desemprego, violência, rostos que expressavam os problemas que o país enfrentava na sua transição ideológica, mesmo com as políticas da Perestroika e Glasnot – medidas econômicas e políticas - impostas pelo governo.

O ponto central da trama gira em torno do Emanuel Moraga. De idade avançada, percebe que chegou o momento de encontrar seu lugar em si e no mundo. A vida do protagonista foi marcada pelo trabalho, pelas obrigações e repetições, pelas normas e regras, mas, mesmo assim feliz, pois estava ao lado de sua esposa. Perdê-la e ver o filho distante se tornou algo que ele, certamente, não queria para os últimos momentos de sua vida. Abandonar tudo e migrar para um lugar distante e incógnito e ao mesmo tempo próximo e cheio de certeza, faz com que ele sinta que, de fato, está fazendo a coisa certa. Portanto, essa novela é, acima de tudo, sobre descobertas.

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Sobre a obra, Paulo Lannes escreve:

"De fato, é um retrato melancólico de uma geração que muito perdeu por conta da situação política local e mundial. Todas as possibilidades de uma vida diferente daquela ordenada para a grande massa era desestimulada e, por isso, muitos sonhos são massacrados.
E toda a conquista de um sonho tardio parece ter um gosto agridoce. É boa pela ilusão alcançada. É triste pela ilusão constatada. Mas o livro mostra que é melhor chegar lá do que viver num eterno 'e se...' . Vivamos!"

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