Relações que constroem uma vida
PARA OS QUE FICAM é o novo romance do autor Alex de Andrade, que já escreveu diversas outras obras – como romances, contos e livros infantis -, como “Amores, truques e outras versões” e “Antes que Deus me esqueça” - dois livros que recomendo a todos que contemplam a literatura brasileira contemporânea, e para aqueles que possuem pouca aproximação também.
O primeiro contato que tive com a sua escrita foi com o espetacular romance “Antes que Deus me esqueça” – este publicado em 2018 pela Editora Confraria do Vento -, e confesso que foi, sem dúvidas, um dos principais que li nos últimos tempos de um autor nacional; a complexidade de vida que envolve o protagonista é surreal. A segunda vez foi com o “Amores, truques e outras versões” - também publicado pela mesma editora, no ano de 2014 -; aqui, somos apresentados a relatos homoafetivos de personagens mais humanos possíveis, transformando a curta obra em um intenso mundo de reflexões acerca das relações contemporâneas - eis um ponto chave em seus livros.
Quando o Alex Andrade me convidou para ser uma das pessoas que pudessem ler seu livro antes do lançamento eu me dispus automaticamente. E foi uma escolha louvável, visto que, de fato, o livro entra para a seleta galeria de meus preferidos de nossa atual literatura – que já possui, inclusive, um de seus escritos. Na sua mais recente obra, “PARA OS QUE FICAM”, Alex afirma o seu nome como um dos grandes escritores da literatura brasileira contemporânea.
Apresentando uma personagem com alto grau de complexidade, o autor nos deixa com sensações de enclausuramento e sufocamento – no bom sentido – com cada página lida. A atual Ana é um reflexo de um passado nada confortável, o que faz com que ela se sinta sufocada com tudo o que ocorre no seu meio familiar e social.
“... a vida desenha em nós os caminhos aonde a alma vai sendo lapidada. Entender o que trazemos na nossa essência compõem os aspectos do que somos infinitamente.”
Morando e sendo a principal cuidadora de seu pai – este já em idade avançada e doente -, Ana rememora e tenta entender quais caminhos foram percorridos e quais experiências foram vividas até chegar na situação em que se encontra. Seu pai, sua mãe, seus irmãos e seu marido são partes desse complexo emaranhado de linhas retas – ou seriam tortas e tortuosas? - que se entrelaçam, se transformando em nós que são difíceis de serem desamarrados. No que diz respeito às relações estabelecidas no romance, essas podem ser exemplos de quaisquer uma das inúmeras famílias brasileiras. Pode ser a do seu vizinho, pode ser até mesmo a sua.
Ana se assemelha a várias pessoas da vida real, o que a torna uma das mulheres mais humanas que já conheci na literatura; e, assim como em seus livros anteriores que li, Alex tem essa maestria de complexificar seus personagens, tornando-os mais reais do que podemos imaginar.
Apenas leia-o.