Viagem de claridade, de Ana Azevedo e Walter Lara
Algumas pessoas buscam a Literatura Ilustrada como meio de ensinar crianças sobre modos, sentimentos, ou qualquer coisa pertinente ao desenvolvimento e à vida. Já comentei em outras resenhas que não acredito que esse seja o papel da literatura, mas quando ela já faz parte do cotidiano de uma criança, um livro pode servir de ponte para um diálogo cujo pais e mães tenham dificuldade em iniciar.
No momento em que vivemos, muitas crianças perderam suas mães, pais, avós, tias, tios... e se nós, adultos, temos dificuldade em lidar com o luto, para os pequenos deve ser ainda mais confuso.
Em Viagem de Claridade, lançamento recente da editora Aletria, um menino de 5 anos narra sua vida de criança. Sabemos sobre seus medos dos monstros que habitam a escuridão e os fantasmas que moram nas cortinas quando o sol se vai. Sabemos que era craque com a baladeira, até matava passarinhos com ela antes de ser repreendido por sua avó. Sabemos que ele era muito próximo ao pai e, antes mesmo do menino, entendemos que esse pai morreu.
Os adultos que o rodeiam não são diretos, “Seu pai viajou!”, “Vai demorar!”, talvez numa tentativa errônea de proteger o menino quando o que ele precisa mesmo é da notícia direta. Mas com o tempo, o próprio menino cria sua narrativa sobre o destino do pai, de uma forma muito poética como as crianças são capazes.
“Meu pai foi chamado para um lugar muito longe, pra mais de mil léguas, mais longe que o infinito. Um lugar só de luz, onde não tem espaço para a escuridão, nem medo de monstro debaixo da cama ou se balançando nas cortinas.”
O texto de Ana Azevedo é lindamente ilustrado por Walter Lara, que pinta com aquarela pássaros, expressões e lágrimas tão realistas que nos comove. O projeto gráfico também conversa com a narrativa, com o título vazado na capa, permitindo a entrada da luz e sua “viagem” sobre a primeira folha ao abrir do livro.
Viagem de Claridade é um trabalho que nos faz ver o luto de forma poética.
Confira o booktrailer do livro