Tangências, de Miguelanxo Prado
Toda história tem um final que toca no mesmo ponto
HQ Tangências, de Miguelanxo Prado, lançada pela Conrad traz contos de finais de relacionamentos
Miguelanxo Prado já é autor conhecido no Brasil desde que foi lançado pela primeira vez em 1988, com Mundo Cão, de lá pra cá conhecemos Traço de Giz que saiu recentemente pela editora Pipoca e Nanquim. Tangências é seu terceiro álbum com oito histórias de finais de relacionamentos.
Cada conto começa com encontros de casais que se declaram apaixonados, mas percebemos em cada um deles um final diferente. Casais de todos os perfis que após uma relação sexual, decidem colocar um ponto final ao perceberem que nada há mais em comum entre eles que o sentimento que os uniam. Caminhos e histórias de vidas diferentes os separam, mas sempre tocam em um aspecto em comum que são os interesses individuais que sobrepõe os relacionamentos.
As escolhas de cada um pautam a separação, embora reconheçam que o sexo seja um elo forte que não conseguem explicar, optam por cada qual seguir o seu percurso ainda que haja algum reencontro.
Todos os contos possuem cenas de nudez e sexo, corpos retratados de uma forma natural sem nenhum estereótipo estético, mas as sequências dos enquadramentos das relações revelam um erotismo que não tem um pretexto puramente sexual, mas da espontaneidade como as relações dos casais funcionam nas cenas.
As ambiências são todas diferentes, lugares fechados como apartamentos e outros como ao ar livre no campo ou na praia, dão um toque sensual ao conjunto da obra, mostrando que são casais diversificados e possibilitam abrir o imaginário que sejam casais de qualquer parte do mundo.
Em Tangências, as histórias têm um ritmo monótono, diferente de Traço de Giz, que possui um dinamismo próprio da narrativa com suspense. O segundo conto que dá nome a HQ, chama atenção a voz do narrador onisciente 9seria essa a voz do quadrinista?) “Um silêncio. O tempo traça tangências: a tentação de retomar o passado e o temor de colocar esse desejo em palavras.” Na cena uma paisagem do horizonte do mar em que o leitor é convidado a refletir sobre as relações do passado, que insistimos em manter guardadas como um amuleto de um desejo e paixões não esquecidas. São casais que naquele momento decidem deixar as histórias vividas no tempo passado e a partir dali querem um novo começo, para isso é preciso romperem essa linha tênue que ao mesmo os unem e os separam.
A HQ ainda que colorida predomina um tom monocromático, como um retrato esmaecido pelo tempo, vai perdendo a cor, quando se rompe ou termina uma história, perde o colorido.
O que mais me chama atenção são os detalhes dos objetos e ambientes, transportam o leitor para aquele espaço da história, como se fosse um voyer com um binóculo a bisbilhotar o breve momento dos casais. Afinal, duas vidas que se tocam, tangenciam entre si, mas não unem, não se confluem, é a premissa dessa HQ.
Miguelanxo consegue ser provocativo e o leitor se encanta com seu trabalho, por isso é tão admirado e lido.