Menino, menina, de Joana Estrela
A jogadora de futebol brasileira Marta ganhou o prêmio de melhor futebolista da Fifa mais vezes do que qualquer outro jogador masculino no mundo. Mikhail Baryshnikov, bailarino, ator e coreógrafo de descendência russa, é considerado, até hoje, um dos maiores bailarinos da história.
Essas duas pessoas quebram o clichê que muitas crianças escutam desde muito novas sobre o que é “coisa de menino” e “coisa de menina”. Como se a infância, a vida toda, na verdade, pudesse ser encaixada apenas nessas duas possibilidades.
Em Menino, Menina, a portuguesa Joanna Estrela aborda o tema da identidade de gênero por meio de perguntas que podem gerar uma conversa bacana e necessária em casa e no ambiente escolar.
“Quem somos e quem sentimos que somos são perguntas que não encontram resposta num mundo preto e branco, mas na grande variedade de tons e possibilidades que existem.”
A autora, em um vídeo publicado no perfil de sua editora portuguesa, a Planeta Tangerina, diz que após adulta, recém-saída da faculdade, teve contato com pessoas não-binárias ou trans. Sem conseguir determinar logo de imediato o gênero de uma pessoa, sentiu um desconforto que a levou a refletir qual era a necessidade de saber o gênero de alguém logo de imediato. Porque não poderia simplesmente perguntar quais eram seus pronomes e até mesmo se isso era necessário para se iniciar uma conversa.
A partir daí, Joana pensou no peso que a definição de gênero tem nas nossas vidas e que não há por que ser assim. No entanto, gerações passadas e até mesmo a nossa (não sei vocês, mas por aqui somos millenials) parecem ter certa dificuldade em se desapegar de todos os conceitos e julgamentos nos quais fomos criados, e ela não quer que as novas gerações demorem tanto para se questionar o porquê de algumas coisas.
Concordo com tudo que a autora disse e, embora deteste o uso da literatura para ensinamentos forçados e lições de moral, acredito que ela é bastante potente em suscitar questionamentos, seja sobre nós ou sobre o mundo ao nosso redor.
Com um texto rimado e ilustrações em lápis de cor, Joana escreve que “Para saber se é garota ou rapaz / só olhando nem sempre você é capaz” enquanto vemos uma criança a brincar na areia e outra a surfar, sem distinção visível de gênero. “Mamãe? Papai? Será? Será?”, são as perguntas que acompanham a ilustração de uma criança ninando um ursinho como quem embala um bebê.
Penso que as crianças irão se reconhecer em diversas ilustrações, principalmente por não conterem o gênero de forma tão explícita taxando o que é de menino ou menina. E para além das questões de gênero, Menino, Menina fala de respeito.
“Quem é o quê?
O segredo não está nos olhos de quem vê.
Quem é quem?
Só você se conhece melhor que ninguém.”