Horizonte, de Carolina Celas
Horizonte parte de um primeiro olhar que se encontra.
Minha leitura tende sempre a partir da capa. Não consigo desprender a narrativa interior de um livro de uma capa, pois são objetos que devem, sempre que possível, conversar.
Na capa do livro da portuguesa Carolina Celas, que chega agora pela editora mineira, temos o olhar de quem vê a capa, mas também desse personagem que se encontra em um possível mirante. Assim como vejo a capa, o título do livro, seu olhar também encontra o título do livro, ou seria a busca pelo que está além? As montanhas em tons rosados, vermelhos e em azul? Ou, além, buscando encontrar nas vias que aí surgem um possível encontro com o meu olhar de leitor?
Ao entrar no livro, a palavra “horizonte” que divide a capa, mas ao mesmo tempo cria uma nova via, se desdobra no interior do livro. Essa via agora tem sobre si quatro novos personagens, que se entreolham e parecem caminhar rumo ao horizonte das páginas que temos em mãos. E nesse vai e vem de olhares, entre as cores vermelhas e azuladas, vamos entendendo que o horizonte está em todos os locais, todos os dias “ali” e “acolá”.
Em meio aos olhares que vão surgindo, como se estivéssemos a olhar por um binóculo, em alguns momentos, vemos o tempo diminuir o compasso para que as imagens que surgem possam ser vistas por nós em seus pequenos detalhes, seja no voo dos pássaros, no farfalhar da mata ou no olhar de quem vê da sacada de um prédio o caminhar dos passantes na rua.
Chegando próximo ao fim da leitura, a reflexão começa a surgir, quantos horizontes possíveis enxergamos quando posicionados em um único ponto? Quantas são as possibilidades de perspectiva? É assim que Horizonte se pronuncia, em uma única palavra, mas por meio de diversas imagens “recortadas”. O livro vai entreabrindo vários horizontes possíveis, disfarçados. E tudo isso por meio das ilustrações que vão surgindo unidas às imagens instantes que Celas criou.
Horizonte é quase um poema surreal em cores, vivo, com sua linguagem terna e doce.