Instante lança Febre Tropical, de Juliana Delgado
O primero livro dx autorx colombianx Juliana Delgado Lopera traz frescor e atualidade aos romances de formação e os arrebata desde a primeira linha.
Você será apresentado à história de Francisca e sua excêntrica família colombiana recém-chegada a Miami, no começo dos anos 2000. Nostálgica e atormentada pelo calor, a garota lida com o desconforto existencial e os desejos próprios da adolescência ao mesmo tempo que observa a inquietação da mãe e a dependência da avó por mais rum nas latinhas de Sprite. Para isso, ela se refugia em Sylvia Plath e The Cure, embora a mãe acredite que a salvação esteja na salsa cristã da congregação Iglesia Cristiana Jesucristo Redentor. Todo o universo em torno de Francisca se torna matéria para suas reflexões, que oscilam entre a ironia mais mordaz e uma delicadeza fortuita, expostas pela jovem que teme revelar seus sentimentos na mesma proporção que necessita vivê-los.
Francisca não está apenas diante de sua sexualidade que aflora sem rótulos; ela também descobre as sutilezas de amar mulheres, viver em comunidade com mulheres, ser criada por mulheres, ao mesmo tempo em que rejeita performances de feminilidade vazias de sentido.
Num momento precioso da narrativa caracterizado como uma espécie de arqueologia sentimental das mulheres da família Juan, Francisca reconta episódios de quando sua mãe, Myrian, e sua avó, Alba, tinham quinze anos, na tentativa de compreendê-las, se reconectar com elas, fechar o círculo das vivências que aproximam e afastam. Um aspecto original é a mistura de inglês (idioma original em que o livro foi escrito) e espanhol, o “espanglês” naturalmente falado entre imigrantes latino-americanos em Miami. Gírias colombianas, expressões afetivas e até frases inteiras nos diálogos e momentos de maior intensidade são usadas para reforçar o viés dramático das personagens. Na tradução, mantivemos a presença do espanhol e, quando necessário, há notas para explicar o contexto.
Febre tropical, lançado originalmente em 2020, foi finalista do Kirkus Prize, na categoria ficção,
e do Aspen Literary Prize, em 2021.