O Poderoso Machão, Torpedo 1972 uma HQ para poucos
Torpedo 1972, de Enrique Sánchez e Eduardo Risso, é a primeira HQ publicada pela mais nova casa editorial de quadrinhos no Brasil, a JBraga Comunicação. A editora traz ao Brasil um clássico espanhol, na versão mais recente do personagem, em que Torelli é um sexagenário, mas ainda muito temido por ser um matador bruto e amoral. Sua fama corre aos quatro cantos e chama a atenção da imprensa.
Um sexagenário que conduz as rédeas dos seus próprios crimes, um matador profissional nunca se aposenta, mesmo na velhice ele continua mais violento e intragável. Quem entra no mundo do crime dificilmente se livra dele, então não se meta a besta com quem vive disso.
Essa é a mensagem que Torpedo 1972 traz ao leitor do século 21. Um malfeitor sempre será um malfeitor, então não tente ser melhor que ele que se dará muito mal, pois ele é implacável e não perdoa ninguém, cobra o que lhe é devido e a justiça dele se faz com as próprias mãos.
Mesmo na velhice, já com algumas manifestações da doença de Parkinson, o pistoleiro jamais deixou de agir como lhe convém. Sempre acompanhado de seu comparsa, Rascal, o cúmplice tenta conseguir alguma grana para sobreviverem. Torpedo vira alvo de um jornalista sensacionalista que quer relatos de seus feitos e uma confissão de que ele foi o assassino de Caputo. Aceita a proposta do jornalista que manda a sua namorada, fotógrafa, fazer uma parte do trabalho investigativo. Insatisfeito com o jornalista e a sua namorada, Torpedo vai fazer o acerto de contas e no decorrer dessa saga ele ainda enfrenta uma quadrilha que o detesta.
Torelli revive seus antigos hábitos de pistoleiro, comete mais crimes e aniquila alguns dos seus importunadores. Ninguém consegue enganá-lo e quem tenta, com certeza vai ter um acerto de contas com o pistoleiro.
Ele pouco se importa com o que dizem a seu respeito, o que quer mesmo é que todos o temem e não se meta a besta com ele. A idade avançada não foi capaz de anular suas habilidades nem a sua má fama.
A HQ apresenta uma impecável revisão, retrata fortemente a violência advinda de um machismo na contramão aos tempos atuais em que a sociedade tenta banir de todas as formas comportamentos como o de Torelli, do jornalista James Halliday por conta dos inúmeros crimes contra a mulher, estupro, objetificação, assédio, machismo etc . A banalização do crime como uma forma de sobrevivência é outro ponto crítico da obra.
A HQ com certeza faz jus aos fãs de O Poderoso Chefão, de faroestes e filmes de violência, crime e suspense. Um protagonista perfeito para vilão que já começa com o título “Comigo ninguém pode”, o que acarreta uma previsibilidade da história, pois percebe-se que ao final ela não traz muitas surpresas muito menos reviravoltas e deixa o leitor refém da sede de vingança contra as atrocidades do mau velhinho.
O personagem carrega muito das características dos pistoleiros de faroeste, porém em um contexto urbano. E resgata ao longo da narrativa a figura do Poderoso Chefão, o pai do crime, Don Corleone, filme homônimo de 1972 que inspira a aura do personagem de Torpedo. A versão 1972 é posterior a primeira de 1936 quando era jovem, lançada no Brasil pela editora Figura, que retrata a primeira fase. A JBraga Comunicação fez a alegria de quem quer completar a história, que traz os 18 anos após Torpedo 1936 em que Torelli ressurge já velho, pobre e esquecido, mas durão como sempre foi.
A edição lançada está caprichada e a altura de leitores mais exigentes, contem extras, esboços dos personagens e um prólogo do autor que situa o leitor sobre o surgimento do personagem e seu desenvolvimento. HQ em capa dura, colorida e com classificação etária, pois há muitas cenas de violência.
O primeiro lançamento da editora foi ousado e com certeza atrai um público muito específico, o que diminui a adesão de um público amplo e diferenciado. Na torcida para que venham mais HQs estrangeiras pela editora.