Uma Coleção Incrível, novos poetas despontam na seara literária belo horizontina
As políticas públicas de fomento e incentivo à literatura tem proporcionado ao público mineiro conhecer projetos autorais de forma contínua. Projetos como a “Coleção Leve um Livro” e “Poesia Incrível” revelam o potencial da literatura fora do cenário das grandes publicações.
Cada vez mais próxima do leitor desacostumado a buscar por livros de poesia, editores lançam, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, obras poéticas que chegam diretamente às mãos de quem não tem o hábito de ir à livraria para comprar livro de poesia.
Entre 2015 e 2017, a coleção “Leve um Livro”, sob a curadoria dos poetas Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum, teve três temporadas com o total de 180 mil exemplares distribuídos pela capital mineira, em que lançaram diversos poetas entre conhecidos e anônimos.
A unanimidade do projeto sob a batuta de dois grandes poetas que já publicam recorrentemente no círculo das grandes editoras, teve o intuito de revelar nomes da poesia que assim como eles um dia eram tão pouco ou nada conhecidos no mercado editorial. Um incentivo aos novos autores a mostrarem seu trabalho ao público para que possa reconhecer que existe poesia de qualidade escondida na gaveta e ainda não revelada no universo literário.
Assim, como o projeto da “Coleção Leve um Livro”, a Crivo, uma pequena editora de BH, busca descobrir esses autores ainda não descortinados no universo literário. A poesia é o carro-chefe da Crivo editorial cujo lema “editando a cidade” marca bem a sua trajetória, em que procura nos recônditos de Belo Horizonte, poetas que querem mostrar a sua poesia ao mundo.
Para que essa revelação fosse possível, mais uma vez a lei de incentivo municipal é pano de fundo para que isso se concretizasse. A coleção “Poesia Incrível”, surgiu em 2014, com o objetivo de lançar novos autores por meio de um concurso literário. Inicialmente, a proposta era fomentar por meio da editora no formato tradicional a publicação de um livro de pessoas que não tem acesso ao mercado do livro. Desta forma, o projeto foi crescendo e a sua continuidade só se tornou possível por meio da política de incentivo literário. Assim, a Crivo promove a literatura local para que ela tenha o mesmo alcance das demais publicações de mercado, seguindo os mesmos ritos editoriais.
A valorização da produção poética local tem sido a sua marca, além de consolidar ainda mais a sua identidade em revelar uma BH literária, tão vasta e diversificada. Desde a publicação do primeiro volume da coleção, “Nus, florais & ping pong”, de Hugo Lima, em 2014, já são seis anos editando e publicando os livros da coleção que chega, no ano de 2020, ao 9º e 10º volumes.
A coleção “Poesia Incrível” revela não só novos poetas, mas livros de poesia que despontam como promissores . Poesias que retratam o ordinário do cotidiano, do fazer poético, da urbanidade e também das inquietações sociais que movimentam a cidade. Em sua maioria, os livros da coleção mostram a qualidade da poética contemporânea, que conversam com o concretismo e o modernismo.
A linguagem poética enfrenta resistência desde sempre, pela dificuldade que muitos alegam em interpretar o texto poético. Diferentemente das elucubrações de poesias clássicas, a Poesia Incrível apresenta uma proposta com vocabulário moderno e até mesmo visual como o terceiro volume, “temos vago”, de Henrique Henras, capaz de desmistificar a aura de que poesia é para poucos.
A poesia é para todos.
A poesia é para todos, esse é o papel da literatura, que alcance todos os patamares possíveis, que chegue aonde jamais chegaria. Ambos os projetos fizeram e fazem jus aos propósitos de descortinar, editar, publicar e distribuir livros de poesia para toda a população, em sintonia, com uma das poucas políticas públicas de cultura que ainda sobrevivem em prol do livro e da literatura. E em especial, por se tratar da poesia, na contramão dos grandes nomes e das grandes editoras que insistem em valorizar o que é conhecido, premiado ou aclamado pela crítica, se depender incrivelmente dessa audácia e ousadia editorial, ela jamais será relegada e para poucos.