23 de setembro de 2020

Como se faz o poema de Ma Njanu

Ma Njanu é poeta, artista visual, ìyàwó, assistente social e educadora popular. Nasceu em Fortaleza, CE. Faz parte da Rede de Mulheres Negras do Ceará – RMNC, é idealizadora do Clube de Leitoras na periferia de Fortaleza e é coordenadora da coletiva de artistas negras PRETARAU – Sarau das Pretas. Publicou a zine na boca do dragão da américa latina (2020) de forma independente e disponibilizou para distribuição gratuita. Integra a antologia Ofò e tem seus textos publicados em sites e zines. Sua plaquete de poesia erótica, olho de tigre com fome, está em pré-venda. Instagram: @ma_njanu

 

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antipoema

 

é preciso rasurar o cânone
distorcer as regras
as rimas
as métricas

o padrão
a norma que prende a língua
os milionários que se beneficiam do nosso silêncio
do medo de se dizer poeta,
só assim será livre a palavra.

 

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Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Como é o esse processo?

MA NJANU Eu nunca tive um ritual de preparação de escrita, é totalmente espontâneo e eu sempre me entrego quando uma poesia se impõe pra mim, como a única regra no mundo que eu estaria disposta a seguir naquele momento ou para sempre. Tenho vezes de acordar de um sonho (ou pesadelo) com uma poesia urgente, urgindo, e ter que levantar pra escrevê-la. Às vezes o caso se encerra ali, às vezes não e um poema pode demorar meses descansando até que eu me sinta pronta pra encará-lo novamente. Outros saem como um uivo num susto e eu nem sequer reviso rs.

 

Você revisa seus poemas?

MA NJANU Aliás, sobre revisão, é um tema delicado, eu sei que é um processo necessário, mas em certa vez num verso eu escrevi "se releio o poema, é meu raciocínio quem domina" e nisso eu senti que o poema tem sua autonomia própria. Apesar de saber seriamente que eu raciocino com o coração - que é um órgão de outra anatomia que não a que comumente atribuímos ao nosso corpo. Enfim, alguns eu corrijo, outros nem a pau, eu gosto de criar minha gramática, a minha ortografia.

 

De onde surgi as ideias para escrevê-los?

MA NJANU As inspirações e temas às vezes vêm da Marisa, que é um tanto diferente da "Ma Njanu", poeticamente falando, carregadas das suas vivências, seus saberes, seus traumas... Outros já vem da segunda, com toda a imaginação, selvageria, pulsão, experimentação...

Muitas vezes as duas são uma só e por isso eu sempre escrevo sobre o meu tempo, que como disse a Mãe Stela de Oxóssi, que é agora.

 

Qual é o seu poema favorito? (Seu e de outro poeta)

MA NJANU O meu poema favorito eu ainda não escrevi, sei disso porque ainda espero por ele. Mas um que eu gosto bastante é "pale moonlight", que tá na minha zine na boca do dragão da américa latina. "Um sonho" é meu poema favorito, de autoria de Beatriz Nascimento, ele tem a carícia e a dor que influencia tanto minha escrita! além de sinais subliminares de acolhida e colo de mais velha-ancestral, que a poeta Atlântica representa pra mim.