A poesia de Isa de Oliveira
A morte sem corpo
Quando vier
Venha em silêncio
Para que eu escute o som dos ossos
A tormenta sanguínea
Percorrer pela alma
Desenterrar o que não foi dito
Em vida
Diga-se de passagem
O tempo
Estadia permanente cravejada na memória
Partiu donde fez morada
No rumor de um mudo
Maquiagem de formol selada
em espírito
Cravejada voz presa no olhar
A dúvida em transe
A despedida em coma
O desespero fechado
N’alguma gaveta
Ah, quem sou eu naquela vala?
*
(Des)caminhos
Dos caminhos que faço
Muitos são feitos de sonhos
Rumo à cama de uma noite fria
Dos caminhos que percorro
Alguns são conhecidos pelas suas
Pedrinhas
Dos caminhos que desconheço
Meia-volta a passos largos
Dos caminhos que traço
Rabisco passos
Deixo rastros
Dos caminhos escuros
Há muitos postes
Dos caminhos seguros
Há muitos vigilantes
Dos caminhos trilhados
Cruzei com uma multidão vazia
Enchendo ruas e edifícios
Dos caminhos que vislumbrei
Um olhar perdido no horizonte
Caminho...
No chão que piso
Seco ou molhado
Sigo por onde me levam meus pés
Construo ruas, becos e avenidas
Até chegar ao lar
Ao trabalho
à escola
à vida.
Dez caminhos
(Des)caminhos.
*
Vertigem
Ouve-se o que quer
Aceita-se sem questionar
Expõe pensamentos
E trôpego em maldizeres
Inflama de versos
Rimas sem verbo
O poeta bêbado
No cambaleio
A dança sem sentido
Sem par
Sem música
Aplausos vazios de som
No Maletta
O traço sem nanquim
Esboça o trajeto
Cego
Tonto
Do pombo na Rua da Bahia
***
Isa de Oliveira é doutoranda e mestre em Estudos de Linguagens, revisora, resenhista e crítica, produtora de conteúdo do bookstagram @corujadasletras, poeta e escritora, autora de Intermitências (Crivo Editorial, 2019).