Trecho de Vamos comprar um poeta
Afonso Cruz nasceu em 1971, na Figueira da Foz e, além de escritor, é também ilustrador, músico e cineasta. Publicou mais de trinta livros, entre romances, teatro, não ficção, ensaio, álbuns ilustrados, novelas juvenis e ainda uma enciclopédia inventada, que conta com sete volumes. Colabora regularmente para jornais e revistas, e recebeu vários prêmios pelos seus livros, cujos direitos estão vendidos para vinte idiomas.
Abaixo, um trecho do livro para dar um gostinho do que está por vir.
Exponencialmente parvo
O meu irmão é exponencialmente parvo. Calça quarenta e quatro e tem borbulhas, trinta a quarenta em cada bochecha (muito mais lógico do que maçã do rosto), sem contar com a testa e o queixo e o nariz. Usa óculos. As sobrancelhas quase não existem devido ao défice de pelos, e quando fala diz coisas como “apreça-te” ou “não me arrombes a carteira” (que quer dizer que o estou a aborrecer) ou “aumenta-me a taxa de juro” (que diz tanto para quando não está a perceber o que lhe digo — acontece vezes sem conta — como para quando quer ser mais atrevido com uma rapariga). Apaixona-se com facilidade e entra, por causa disso, numa quase constante bancarrota emocional. Mais de noventa por cento dos colegas e setenta e quatro por cento da família concordam no resultado: é um pateta.
Ao chegar a casa, cumprimentei-o com a normal forma de cortesia: crescimento e prosperidade. Ele respondeu exercendo um gesto obsceno com o dedo médio da mão direita e investindo a língua para fora enquanto abria a boca. Vestia uma t-shirt patrocinada por uma gasolineira. Sentou-se na cozinha a comer biscoitos de gengibre, sete, enquanto demonstrava, usando palavras e gestos, o calor sentimental que o perturbava.
Estou apaixonado, disse.
Quanto?, perguntei.
Setenta por cento.
Uau!
Encolhi os ombros:
***
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