Mario Vargas Llosa e Júlio Ramón Ribeyro - amizade partida
Um dos meus amores literários se chama Julio Ramón Ribeyro, como muitos sabem. Ele e o Mário Vargas Llosa foram amigos durante mais de 30 anos. Chegaram a assinar manifestos de esquerda juntos (sim, Vargas Llosa já teve esse passado, vejam só!) e dividiram o mesmo apartamento em Paris durante um tempo. Foi Llosa que ajudou Ribeyro a arrumar seu primeiro emprego na capital da França, e Ribeyro foi um dos primeiros a ler o manuscrito do seu primeiro romance, "A cidade e os cachorros". Parecia ser uma amizade dessas pra durar a vida inteira. Até que Julio Ramón Ribeyro recebeu o cargo de embaixador na UNESCO através do presidente peruano Alan Garcia, a quem Mário Vargas Llosa fazia ferrenha oposição política. Julio escreveu e publicou um artigo tecendo duras críticas a Lllosa, que por sua vez disse que Ribeyro só defendia aquelas ideias pra não perder seu cargo de prestígio.
Em 1993, Mário Vargas Llosa publicou esse livro de memórias, "El pez en el agua" ("O peixe na água"), que conta desde sua infância e a perda do seu pai até o momento em que concorreu à presidência do Peru (e perdeu para Alberto Fujimori, o que na época da publicação do livro era algo recente). No meio de tudo isso, ele desce o sarrafo no Julio Ramón Ribeyro, criticando duramente seu posicionamento político. Júlio já tinha falado mal do Mário em "La tentación del fracasso", livro originado a partir de seus diários. A amizade já se tinha encerrado desde a primeira rusga, que Julio nunca revidou (primeiro por não gostar de contendas, segundo, porque dizia que Mário, sendo bem mais famoso e tendo bem mais mídia do que ele, sempre ia parecer estar por cima). Nos bastidores, entretanto, ambos afirmavam ser leitores um do outro e Mario disse muitas vezes que Júlio Ramón Ribeyro era o melhor contista peruano. Em 1994, Julio morreu de câncer, sem que ambos tivessem jamais voltado a se falar.
Apesar da enorme popularidade de Mario Vargas Llosa e de Júlio Ramón Ribeyro no Peru, foi dificílimo encontrar “El pez em el agua” nas livrarias de Lima. “La tentación del fracasso” não, foi bem mais fácil, o que é de se admirar, porque Mario tem mais reconhecimento entre os peruanos.
Agora, me resta ler e me aperceber do que cada um disse de si, dentre tantos outros assuntos abordados nos seus respectivos livros de memórias no qual, da amizade entre ambos, só restaram despojos.