13 de setembro de 2017

A poesia de Jr. Bellé

Jr. Bellé nasceu em Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, paradeiro de suas memórias mais antigas. Como uma araucária fora de lugar, fincou raízes na cidade se São Paulo. Publicou três livros de poesia e um livro reportagem.

 

que se rompa o monopólio dos afetos

que eles vão e voltem como a brisa efêmera dos desejos

e a fugaz eternidade do esquecimento

como a incendiária possessão das paixões

e a brasa morna que mantém os corações aquecidos

nos tantos outonos e invernos dos grandes amores

que os românticos sejam enforcados na corda bamba do ciúme

ou morram afogados nas lágrimas de seu sofrimento sincero

 

a todos esses espero

com um abraço apertado

na porta de entrada

do inferno

*

a violácea via láctea que jorrou do pau de deus

e te lançou na terra já desmamado

terra-que-o pariu um puto um louco um poeta

terra-que-o sugará de volta para a terra

e cuspirá seus ecos no desfiladeiro dos céus

e acinzentará as nuvens com suas palavras

e chorará cometas

e cometerá o verso da vida

e o amor nascerá de novo

de num lugar tão ermo

quanto o coração humano

 

*

 

para que um nenhum agreste-reste em nossos-ossos-sós

para que este ruivo-uivo não soe somente como um termo-ermo

numa savana-vã

esqueça que o medomina sua culpaixão

e a mágoa-água encharcando-encharca um desalento-lento

intua que em tua fibra vibra uma esperança-herança

de que a angústia - essa ânsia-anciã - nos ensina-a-sina

de sermos apenas uma feliz-lis

e muito embora em nossa almamante se enevoe-e-voe

uma imensaflição

que sejam nossas as pétalas da mais doce trevastidão

 

*

 

já era hora

colocou sua dorquídea para dormir do lado de fora

e tomar um pouco de céu