A poesia de Jr. Bellé
Jr. Bellé nasceu em Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, paradeiro de suas memórias mais antigas. Como uma araucária fora de lugar, fincou raízes na cidade se São Paulo. Publicou três livros de poesia e um livro reportagem.
que se rompa o monopólio dos afetos
que eles vão e voltem como a brisa efêmera dos desejos
e a fugaz eternidade do esquecimento
como a incendiária possessão das paixões
e a brasa morna que mantém os corações aquecidos
nos tantos outonos e invernos dos grandes amores
que os românticos sejam enforcados na corda bamba do ciúme
ou morram afogados nas lágrimas de seu sofrimento sincero
a todos esses espero
com um abraço apertado
na porta de entrada
do inferno
*
a violácea via láctea que jorrou do pau de deus
e te lançou na terra já desmamado
terra-que-o pariu um puto um louco um poeta
terra-que-o sugará de volta para a terra
e cuspirá seus ecos no desfiladeiro dos céus
e acinzentará as nuvens com suas palavras
e chorará cometas
e cometerá o verso da vida
e o amor nascerá de novo
de num lugar tão ermo
quanto o coração humano
*
para que um nenhum agreste-reste em nossos-ossos-sós
para que este ruivo-uivo não soe somente como um termo-ermo
numa savana-vã
esqueça que o medomina sua culpaixão
e a mágoa-água encharcando-encharca um desalento-lento
intua que em tua fibra vibra uma esperança-herança
de que a angústia - essa ânsia-anciã - nos ensina-a-sina
de sermos apenas uma feliz-lis
e muito embora em nossa almamante se enevoe-e-voe
uma imensaflição
que sejam nossas as pétalas da mais doce trevastidão
*
já era hora
colocou sua dorquídea para dormir do lado de fora
e tomar um pouco de céu