27 de abril de 2017

relógio quebrado

o vidro trincado e que

brado reflete muito mais luas do que

a lâmina limpa lembra

minguantes em mim

de noite ardo meu tempo é quando de manhã escureço e não lembro há quanto tempo não uso relógio e perco o compromisso desculpe ter chegado três meses atrasada a coluna ficou perdida nos arquivos ou na memória eu não sei se já se dissolveram os ponteiros ou se um outro astro realinhou a rotação desses vazios pois o relógio quebrado ouve o tic tac passado amanhã passou o tempo passa a hora tic tac já estou muito cansado de fazer meu tic tac nas ruas e nas casas e telas e nos livros prefiro

silêncio

é sempre

preciso

em pleno oceano os astros saltam distraídos na obscuridade líquida hora dos peixes náufragos e das algas lentas flutuantes espumas estão em plena enseada ou dois infinitos ali se espreitam num abraço azul e sublime qual oceano a andar na persistência da memória do ritmo tampouco olhar o tempo na torre se a torre não tem treze traços para os ponteiros criarem outras casas ao invés de rodarem a roda do infortúnio de rodar a roda do infortúnio nesta roda