A espera do livro
Vez ou outra, aparece alguém que quer publicar comentando que não publicarão seus livros com editoras e que seus próximos livros, portanto, irão sair de maneira independente. Não discordo de quem assim pensa, mas é necessário falar um pouco mais sobre isso.
Mesmo que a gente saiba que existem bons e maus profissionais, sair a torto e a direito falando que quem trabalha com edição é um enganador é uma maneira limitada de se enxergar, não apenas o mercado literário, mas o mundo. Não é agindo dessa forma, erguendo o dedo e vociferando para todos os lados, que os editores não sabem o que fazem que iremos conseguir fazer o problema sumir.
É necessário respirar para refletir.
O que alguém espera quando envia um original para uma editora? No mínimo, uma resposta, óbvio. Mas, além disso, espera receber uma proposta editorial, seja ela paga ou não (o que dá tema para um próximo assunto). Ele deseja saber como pode funcionar a produção do seu livro e em que aspectos isso poderá acontecer. A boa editora, pensou eu, irá respondê-lo e explicar como tudo pode e deve funcionar (mesmo que saibamos que vários não respondem e-mails e que a culpa disso é de ambas as partes, mesmo que saibamos também que, enquanto editores, fiquemos a repetir as mesmas informações ao longo dos anos). E, a partir daí, pelo que tenho visto, em minha pouca experiência, e em conversa com alguns profissionais do mercado, vai surgir um grande problema, a espera.
Quem envia o original espera que seu livro seja lançado, geralmente, no ano em que ele envia o original. Se ele enviou o original em janeiro, março ou julho, na mente dele, é óbvio que dará tempo do lançamento de seu livro sair ainda no mesmo ano. Espera mais. Espera que em até 6 meses, não, em até 3 meses o seu livro estará pronto para o lançamento. E isso, a meu ver, é muito problemático, por vários motivos.
Um editor faz livros, não macarrão instantâneo. A produção de um livro leva bem mais do que 3 meses para ficar pronto. Há de se respeitar o tempo do livro, o tempo da produção para que todos os detalhes sejam ajustados e que tudo para aquela obra em específico seja estudada e abordada para que enquanto objeto de arte e enquanto objeto de consumo possa vir ao mundo da melhor maneira possível. Quando isso não acontece, o que ocorre? Culpa do editor...
O problema é que vejo editoras correndo para conseguirem lançar um livro com prazos, muitas vezes, inimagináveis, às vezes marcam a data de lançamento assim que aprovam os originais. Já vi livros sendo produzidos e lançados em até menos de 30 dias. Na minha cabeça, isso não pode dar certo, apesar de há quem diga o contrário.
E isso parece ser consequência justamente de uma coisa, a espera do autor. O autor não sabe esperar (Até sabe, se a publicação for por uma das grandes editoras do país...). Mas não quero generalizar. Não é minha intenção acusar com o dedo em riste. Continuemos. Boa parte (quereria dizer a maioria, mas não tenho dados de pesquisa para tal) não consegue esperar cerca de 6 meses ou 12 meses para ver a publicação de seu livro sendo realizada. A autopublicação, talvez, tenha contribuído para que o autor, com sua ânsia de ter o livro em mãos, prejudique ainda mais o processo de produção do livro, isso porque quem escreve muitas vezes acha que por colocar o ponto final em sua obra ela já esteja totalmente pronta para ir para gráfica... Ledo engano.
Mas isso não é culpa só do autor, como disse no parágrafo anterior. A culpa também é do editor. Sejamos sinceros. Isso porque se deixa levar pela sua ansiedade. O caixa está ao nosso lado com sua bocarra aberta querendo nos engolir e é preciso alimentá-lo. É preciso ter fluxo no caixa, é preciso pagar as contas, é preciso muitas coisas... Eu consigo compreender toda a situação, mas não consigo aprovar como sendo a melhor para o nosso mercado, e quando digo nosso quero me referir às pequenas editoras.
Mas, então, como sobreviver?
Sinceramente? Eu não tenho a resposta completa. Talvez, agora, você ria e pense que eu não sei de nada. Talvez você esteja certo, mas lembre-se do que pedi no início, respire e reflita.
Não seria melhor que conseguíssemos equilibrar o tempo de produção e a ânsia dos dois lados? Não seria melhor trabalhar dentro das suas possibilidades de maneira a respeitar o livro acima de todas as coisas? Não quero também aparentar um certo romantismo sobre o livro que não possuo mais (Talvez apenas um pouco). O que pretendo aqui é apenas levantar um assunto que parece estar passando desapercebido enquanto julgamos uns aos outros. É necessário que autor e editor se entendam quanto ao processo de produção de um livro e quanto a essa espera.
Cada qual no seu quadrado, ainda pode haver quem o diga. Sim. Concordo. Mas também é necessário que cada qual entenda sua realidade e que cada qual, editor e autor, se cobrem apenas dentro então de suas possibilidades.
Por exemplo, quando um autor ou uma autora me procura, eu deixo claro, desde o início, que o livro pode levar até 12 meses para sua publicação, e tento não utilizar a palavra “demorar”. Um livro não se demora para fazer, um livro leva o tempo necessário para ser feito. Depois, o autor não poderá vir cobrando que o seu livro não saiu em tempo hábil. Desde o início, irei dizer, eu deixei claro como as coisas funcionariam. Certamente, isso não dá certo com todos, mas, aos poucos, vou percebendo que há quem escreva e que respeite isso, o que contribui para o livro. Há de se dizer ainda que, no início, sim, cheguei a fazer livros em pouquíssimo tempo, e só eu sei os prejuízos que causei a eles. E aqui compro a culpa, porque, ao final, o autor sempre se eximirá, se encolherá no canto, pois, por não conhecer todo o processo – às vezes não por sua culpa, pois há quem vai atrás de conhecer o processo – ficará sem saber o que dizer ou o que fazer.
É necessário sempre traçar um roteiro, um plano, não de fuga, mas um que atinja a linha de chegada. É necessário respirar durante a produção e compreender como as coisas funcionam e como tudo pode trazer benefícios a longo prazo. Por isso, é importante respirar. Aquela ansiedade, em alguns casos, que a espera faz, pode ser diminuída com o respirar. Devagar, sentido o ar entrando nos pulmões, será possível compreender os processos necessários para que o livro respire, para que ele sobreviva. Talvez assim conseguiremos diminuir os dedos em riste e encontrar mais soluções que esperamos encontrar.