10 de março de 2017

Um estrangeiro no jogo

I: Abutre sem sono:

Acordei em outro lugar. No epicentro, bandeiras pretas e um hino de abutres cantarolando no céu morto da madrugada. Levanto. Outra insônia. Mastigo uma fruta. Passo um café. Mijo. Lavo o rosto. Som de sirenes. Gritos. Um tédio que filtra os músculos. Ossos estalando, seco, quebrado. Abro o notebook e viajo até meu país natal. Limpo as remelas, no Brasil escuto gritos politizados, alguns histriônicos, feito cão colérico prestes a ser abatido. A duração destes gritos já está cronometrada, são guitarradas em um show punk, nervosas e temporárias, duram até o suor permitir, depois se tornam vento, como todas as outras coisas mundanas, ar, golpes. É, termina que eu acho graça, mas também acho interessante. Antes o barulho do que o silêncio. Política deve ser falada, berrada, mandada tomar no cu; se vai mudar ou não são outros quinhentos. Vamos lá, mudar o mundo.

II: Reforma política:

Os chefes desta barafunda política são os investidores das campanhas, as empresas brasucas, empreiteiras, bancos, arranha céus, o cinza da grana e o terno bem engomado do selvagem civilizado. Presidente nenhum conseguirá mudar a estrutura se estiver sendo pago por ela, entretanto, se um presidente governar sem estar dentro da estrutura também não conseguirá mudar porra nenhuma. A argamassa empresarial sustenta cada tripa deste país. Lula falou uma verdade dia desses: “só é possível fazer uma reforma política fazendo política”. Eis a questão, meu cachaceiro e amado presidente.

III: Heróis:

Contrariar os interesses de quem manda em tudo é pedir para entrar numa roleta russa com bala endereçada. A raiz da política brasileira está corrompida e os vermes que a devoram são os mesmos que a controlam. Um estrangeiro neste jogo não pode mudar nada. Ou seja, para limpar um mar de bosta é necessário se sujar de bosta. Mas será que eles querem limpar a bosta do mar colonial? Aquela frase de efeito que invocam no filme do Batman é verdadeira? Ou morre como herói ou se vive o bastante para se tornar o vilão.

(?)

Getúlio Vargas foi um herói?

Lula é um vilão?

E o tal do povo?

O foda é que o povo morre todo dia e não vira herói. Brincadeira sem graça.

IV: Brochadas ideológicas:

O problema está na estrutura, até porque temos bons nomes na política do país, mas do que adianta bons candidatos sendo que a base da política tá bichada?

Por exemplo, um presidente do PSOL sofreria bastante na atual conjuntura, pois é um partido fechado e socialista (ideologia que teria dificuldade em governar no atual momento do país). Eles criticam o grande capital, são a favor da estatização profunda e redistribuição de renda forçada. Dentro do espectro político, o PSOL está mais próximo da atual política da Cristina Kirchner do que a de Lula de 89. Enfim, eu gosto do plano de governo do PSOL, mas o acho impagável dentro da estrutura. Inclusive, as chances do país quebrar ou entrar em um círculo vicioso de problemas econômicos como na Argentina seriam grandes. É importante lembrar que o Brasil é um país conservador e prova isso a cada instante. Logo, um presidente do PSOL seria uma brochada na lua de mel. O partido deseja tocar na ferida e eu acho válido, entretanto, a maioria do povo não acha. É aí que reside a tragédia. Outro ponto: como enfrentar os Grandes que bancam a estrutura estando fora do jogo e sendo contra os jogadores?

Conclusão: quebrando o país ou com a resposta que Lula deu a alguns anos atrás.

Veja mais no anexo “pacto com Belzebu”.

A realpolitik é brutal.

V: Religiosos (que são contra o estado laico)  filhos da puta:

Esse papo de meter Deus e religião em todo canto já encheu o saco. Enfiem nessas cabeças benzidas de água benta: religião é uma bosta que não faz parte da privada chamada política. Se você realmente acredita nesses excrementos, soque sua crença na igreja e pare de encher o saco.

VI: Justiça:

O Maluf disse que confia na justiça. Sem mais.

VII: Lava Jato:

Um circo sem palhaços.

VIII: Estado:

Gordinho ou magrinho? Depende do regime.

IX: Roma em chamas:

Concluo meus delírios de estrangeiro com uma proposta: a solução está no fogo. Nada como um coquetel molotov no canto certo para mudar uma ou duas coisas. Pensem nisso, crianças: o baluarte da estrutura pode ser forte, mas contra o fogo não há um que fique de pé, até porque eles são feitos de carne e osso.

Nota de rodapé esperançosa:

Lembrem-se: estamos escolhendo apenas um presidente e não o dono da empresa x, y ou w.