A poesia de Joãozinho Gomes
Joãozinho Gomes, poeta e compositor paraense – radicado no Amapá, – nasceu em 20 de outubro de 1957, na cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará. Iniciou suas atividades poética e musical na década de 1970. Em época atual, reconhecidamente como um dos mais férteis poetas-letristas da sua geração, Joãozinho Gomes ostenta uma obra que agrega parceiros – compositores e poetas – de várias regiões do Brasil, entre os quais, nomes famosos da musica e da literatura brasileiras. A sua produção poética e musical consiste em aproximadamente mil canções e, cinco livros, dos quis, cerca de duzentas canções foram gravadas por seus respectivos parceiros e, apenas um livro fora editado, A Flecha Passa e poemas diVersos; recentemente teve seus poemas editados pela Revista Brasileira N° 84 da ABL Academia Brasileira de Letras. Assim sendo, somente vinte por cento de sua extensa obra está publicada.
EMBRIAGADO MÊS DE ABRIL
Agora, estou no tempo dos insetos.
e até se me quedo imóvel,
voo.
(Astrid Cabral)
Madrugada sombria
ébria antemanhã
que à meu brio se inebria,
que me breia ao breu
do embriagado mês de abril,
hábil mês de abril
que se abre ao Bar do Abreu
ao bardo que eu venero,
bardo que idolatro
e entre litros, mantras, letro;
e não me sinto
neutro ante o seu cetro:
e não me sinto
outro ante o seu trono:
e não me sinto
outono ante os insetos...
EITO DE HEITOR
(Muros que escravos levantamos, campos
Ubi Troja – nossa Tróia, Tróia! – fuit...)
(Mário Faustino)
Tutor de tudo em todo astro astuto,
o eito de Heitor
restituindo Troia troa à tempestade intempestivo.
– Impetuoso amor a despertar
o sepultado Grito.
Berro enfurecido (em um buraco
rés ao cu no qual ecoam ecos no infinito.
Orifício estelar onde excrementos deposito após
lavar a vala disto tudo aqui escrito) neste
esgoto abarrotado de detrito, recipiente escroto,
secreto antro do Conflito à cama de Procusto
onde o monstro estica o Grito.
Ai, ressuscitado,
que ao custo de sustar o mito
augusta o condenado; Grito
ao átrio do atrito à dor do triturado.
EQUINÁNIMOS SOLDADOS
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
Herberto Helder
Negrís cavalos alegres
em céus grisalhos,
negro Zelopolos
e gris Apolinário
galopassam velozes
sobre as nuvens
a divisarem Vênus
Cavalos divinos
dos estábulos do meu reino
(sagrado tabuleiro
de Mahan Zanin),
potros em trotes
a Tétis mandados
para puxarem conchas
de ostra e marfim...
Anfíbialadas montarias
com peças de safira aos arreios
e pele de arraias
aos confortáveis pelos:
cascos de ouro aos arroios
lançam-se as sendas
e vão-se os cavalos.
Relincham a lincha reles
de brutais reinados
e aniquilam guerras;
equinánimos soldados
O SOBRADO
O Círio vai passando como um rio.
(João de Jesus Paes Loureiro)
Nesta rua por onde ando agora
parodiando
a minha sombra
há um sobrado que me
assombra
à sobra de um poeta soçobrado
(ouço o seu brado sem soluço
não sendo consolado)
à solas de uma obra que o tem
pisoteado,
(Por que não me alumbras
hein, poema deslumbrado?
Por que me emblemas em arames
de ruídos alambrados, se por
meu nome serás eternizado?)
dobro a esquina
e, eis que na taverna Isnard
recita Tavernard;
“E eu sinto, então, como um desencantado,
Toda a inutilidade de escrever.”*
e crer e ver,
ouvir o recitado,
situam-me
à morte que caminha a meu lado.
*Fragmento de Esforço Vão
poema de Antônio Tavernard