7 de dezembro de 2016

A poesia de Nydia Bonetti

Nydia Bonetti, 1958, engenheira civil, Piracaia, interior de São Paulo. Mantém o blog L o n g i t u d e s - (http://nydiabonetti.blogspot.com). Tem poemas publicados na Revista Zunái, Germina Literatura, Revista Mallarmargens, Revista Eutomia e outros sites literários e culturais e antologias diversas. Publicada ainda em 2012 pela Coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo, antologia Desvio para o vermelho (Treze poetas brasileiros contemporâneos). Também em 2012, pela Coleção Instante Estante – Minimus Cantus, Castelinho Edições, projeto de incentivo à leitura. Teve seu livro SUMI-Ê publicado em 2013, pela Editora Patuá. Ainda em 2016 lança ‘de barro e pedra’, pela Editora Urutau.

Seleção de poemas retirados do livro – de barro e pedra – que será publicado até o final do ano pela Editora Urutau, que inaugura com este livro o sistema de financiamento coletivo: http://www.editoraurutau.com.br/financiamentos.

"... prender o barro brando no oco de não sei quantas mil atmosferas
que o faça fundir no útero fundo que devolva a terra à pedra que era"

João Cabral de Melo Neto

***

 

sonhei um rio barrento - que corria às avessas
e invadia a casa
subitamente
tentava
com minhas garras
salvar coisas e gente
não conseguia
um leite condensado (eu dizia) um copo d'água
aquele livro azul
minha mãe
(são tantas as fomes)

 

***

 

o tempo é de pedra e corta – preciso
feito lâmina
e a pele fina treme
ao sopro
do vento
por isso canta rios onde se espelha
águas serenas antes
dos pés
tocarem o fundo
em busca
do rosto
que a cada passo se afasta
enquanto
o sangue tinge as águas de vermelho
sem ser tempo de amoras

 

***

 

silêncios de pedra
soterram aqueles que silenciam

[a mim, libertam]

 

***

 

se a tua fome for feito a minha
de palavras e (in)quietudes
faz como eu
bebe os silêncios
em goles profundos
e o verso - rumina lentamente

 

***

 

caminho queimando meus pés no tempo
que se fez pedra
arestas que se encaixam precisas
[nenhum vão]
daninha
a erva não vai nascer
— nem a flor

 

***

 

a dor molda o poeta feito um oleiro
e o barro se contorce
entre silêncios, palavras e espantos
vaso de terra
que ao sopro mínimo de vento
canta:- nervos expostos
flor da pele