A poesia de Mardônio França
Mardônio França, Fortaleza/CE, é poeta e editor da revista corsário Em 2012 lançou o livro-objeto Mitologias. Participou da antologia de poesia brasileira, Massanova (2007), da antologia Encontos e Desencontos (2007). Foi co-editor da revista gazua. Publicou 3 números da Revista corsário. Editou 16 livros pela Editora Corsário. Fez diversos videopoemas, como o premiado “Mário” sobre o poeta Mário Gomes. Estuda física por amor e gosta de ver o mar em Fortaleza com Cristina.
sem use - abuse da poesia
avise qdo chegar
q vou preparar a trança do sonho
vou trazer o brilho do particípio e desafiar o tempo
avise qdo será o dia a partida e o caminho
qdo os pássaros serão libertados
os meninos sírios poderam andar livres nos parques de paris
os nigerianos brincaram com barquinhos de papel em veneza
os fugitivos da guerra da seca do norte do brasil terão
terra, água e plantio
avise qdo o dia, e ele chegará
não vamos duvidar de darwin, de salvador dali e de dom sebastião
dom dom dom sebastião
que chega com peter parker dançando toda a relva do mundo
no sarapintar no meio do bloco de carnaval do benfica
vem e fica no meio do nada desafiando o sal e o sol
vem e chega perto, desliza no meu peito
mordisca meu coração infiltrado e saltimbanco
vem desliza na praia na raia do mundo na saia do vento
vem participa da alegria com o punhal e a poesia
arma paixao, coroado movimento nas ruas
distribuídos flores astrais & canções de amor
viola veleiro canção do tempo.
*
poema para os libertinos da estradas
vai, 1, 2, 3 : silêncio, partida, estrada
preciso urgente ganhar bem
para pagar os fotosensores
amigos da estrada
preciso urgente ver uma explosão na lua ou em alguma remota super-nova
ele veio com os elixires do oriente e a flor de damasco
veio com o tapete da pérsia e o rubi do deserto
com espadas de alexandria e a feroz viola do reisado
partiu pela velha cidade portuária e
o forte de nossa senhora dos espantos pisava e a cada salto, uma nova era, se
fazia por seus pés andarilhos, gerações, lâminas de poesia, doce, doce júpiter,
torcidas & festim entre os artistas, brincadeira, carroceis, corcel, minha
poesia é um corcel negro avançando por entre o cotidiano do sol amarelo em
busca de uma lua, nueva-lua, cadafalso e uma velha bastilha, começando nas
eras-guerras
tardia
silêncio
calmaria
foguetes
tudo se esvai no desfiladeiro da cidade de fortaleza
a cidade
a cidade
a cidade & os anjos que assaltam
e tudo começa de novo no dia seguinte.
depois do carnaval
*
poema corsário
o vento percorre meus sonhos
na síria, tudo permanece imóvel
na verdade, tudo igual, como começou a 10 mil anos atrás
os reis & os maldizes - os escravos e as matanças, partilhas, exílios
tudo como vai
chuva de granito em chapecó
explosão em bagdá
pra lá do ceará, seca braba
os jornais escorrem vermelho sangue entre propaganda de enlatados e cervejas
o vento percorre tudo
o vento percorre a sombra dos dias
o vento me lembra da jangada
e do jangadeiro que se perdeu no meio dos bichos marítimos
o vento é irmão do mar
e o mar é filho da lua.
o tempo percorre meus olhos
com uma velha lembrança de criança
quem sabe isso é amor
essa lembrança permanente
essa calmaria e a vontade
dos beijos
dos agarros
das mordazes mordidas a-sarros & tudo que vem junto