A poesia de Thiago D. Oliveira
Tiago D. Oliveira, professor e pesquisador, graduado em letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Publicou contos e poesias em Portugal, onde viveu e estudou na Universidade Nova de Lisboa. Em 2014 teve seu primeiro livro editado de poesia no Brasil, Distraído. Atualmente desenvolve pesquisas sobre a ética dos afetos em formas breves na literatura portuguesa, projeto que é ligado à Universidade Federal da Bahia e ao CNPQ (UFBA). Prepara-se para editar mais um livro de poesias – O criador de santos.
Breves notas sobre o suor e a palpitação de mais um leitor
oito anos de idade não servem
para uma montanha russa
é preciso mais noites e dias
com oito anos não sabia nada
da noite dormia e sonhava
assim casou-se com um homem
velho quase sem cores e riso
exceto nas madrugadas
em que não se adormecia
controlava-se a respiração
pouco a pouco até que ela
crescesse engolindo a escuridão
*
Sina de bom moço é colocar bem-me-quer na correnteza
ela estava entre
o entrudo e o carnaval
vendendo seus poemas
pintados no corpo nu
aqueles leitores jamais esqueceriam
do movimento de suas rimas
do verso quebrado em praça pública
da palavra rebolando
para caber na métrica perfeita
e de repente a poesia ganhava
finalmente um sentido social
*
Você não consegue sentir duas dores ao mesmo tempo, uma anula a outra
uma pontada na cabeça
a fez pensar na morte
agarrou-se às fotografias
e de olhos fechados esperou
ele lhe deu um bofete
depois riram e rezaram
para Baco com o estômago
rim língua ponta dos dedos sexos
*
Bloco das cinzas
Nunca amamos alguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém…
é um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos que amamos.
O livro do Desassossego – F.P.
I
de uma mulher que morreu
teve suas cinzas prensadas
em um disco de vinil
30 faixas 24 minutos
que era uma maneira
de continuar sendo tocada
II
doutra que explodiu
em fogos de artifício
corpo de cinzas
corpo de pólvora
para que surgisse
o céu de estrelas
III
e a viúva
e as cinzas dele
fundidos em um diamante
pendurado no pescoço dela
IV
aquela que quis
mais do que as outras
inseriu as cinzas
no consolo manual
e aquele corpo
em movimento tinha
nome cara quase alma
quente dentro dela