Nos limites do jornal
Tudo bem que no começo do gênero crônica, no Brasil, o jornal foi o meio mais importante. Isso mais ou menos na metade do século XIX, quando começou a despontar nas páginas do Correio Mercantil a pena corrida de José de Alencar. Ou quando, já no final dos oitocentos, na época em que a Gazeta de Notícias, em substituição à saída de Machado de Assis, colocava Olavo Bilac no posto de cronista.
De lá pra cá, a crônica ganhou mais importância, pelo menos no seu lugar dentro do periódico. Andou, aos poucos, do rodapé da página para a parte superior dos Cadernos de Cultura. Diversificou também os seus meios de publicação. Hoje, além dos jornais, sai em revistas, sites, blogs, redes sociais, jornais televisivos. E ainda ganhou as páginas dos livros, até mesmo dos livros didáticos. O professor, esse canonizador cotidiano, chega a colocar obras de cronistas nas listas de materiais, para que os alunos as comprem no começo dos anos escolares. Se ao longo do ano elas frequentam as leituras do dia a dia dos estudantes, é bastante usual, ao final do ano, aparecer crônica nos velhos vestibulares ou nas quatro cores das folhas do Enem.
O meu estranhamento maior com maleabilidade do gênero aconteceu a primeira vez em que vi um jornal televisivo realizando uma crônica. E dizendo que aquilo era uma crônica. Durante mais ou menos dois minutos, o jornalista – ou seria o cronista? – passeava por New York, comentava costumes dos moradores da cidade, intercalava as falas com trechos de música, declamava um texto leve, sem lead, mas com grande informatividade e subjetividade... Era crônica em verbo, nota musical e imagem.
Portanto, aquela história de que o gênero está limitado ao jornal... parece uma notícia limitada, não?!