12 de agosto de 2016

Quando eu li Inês Pedrosa

 

Paula. Mais do que o nome de um romance da Isabel Allende (que, confesso, não consegui terminar), é também o nome de uma mulher que nasceu no sul do país com deficiência auditiva. Eu ainda não sabia disso quando acessei o blog dela, por acaso, lá pelo ano de 2008, em um ambiente virtual em tudo distinto do que acessamos hoje. Também não sabia o quanto eu ia gostar da sugestão da Paula: a leitura do livro Nas tuas mãos, da escritora portuguesa Inês Pedrosa. Entretanto eu gostei, não só deste, mas de todas as palavras dela em que consegui cravar as mãos e unhas roídas.

Confesso que julguei o título. O nome da autora. Pedrosa? Coisa mais bruta! Nas tuas mãos, coisa mais carente! Ainda bem que não devoro mais minhas unhas e que desfaço preconceitos como grumos em um mingau; Inês é tudo menos bruta, suas narrativas são tudo menos carentes do que quer que seja.

No Brasil, temos esse ditado de que “Agora Inês é morta” que me vem no pensamento quando leio o nome dela na capa de um novo volume. Porque, veja bem, Inês é viva! Ela respira e escreve e traduz avidamente. Dirigiu por bons anos a casa Fernando Pessoa em Lisboa. Ela até usa o Twitter e o Facebook.

Inês é o mais perto de um ídolo vivo que já tive; minhas heroínas não morreram (todas) de overdose, mas é fato que não sou contemporânea de todas as minhas divas pessoais.

As mulheres de Inês também estão lá muito vivas, fortes, muito donas de mundos interiores que resplandecem em quem adentra no universo desta autora portuguesa que se encantou pelo Brasil (e por um brasileiro, que a desposou). Este sentimento é tão intenso que, ao lê-la, consegui influenciar mulheres ao meu redor para que lessem também tais livros. Entre elas minha mãe, Cleide, uma das divas pessoais com quem tenho a sorte de conviver.

No ano passado, eis que minha mãe, viagem marcada para um mês de férias em Portugal, decidiu – como uma personagem de romance – agir na surdina. Munida das redes sociais, deixou mensagens para Inês falando do meu amor pelos livros dela, da minha ânsia por escrever histórias que, se não aconteceram necessariamente, são acima de tudo reais em suas emoções. Existe um pacto não escrito das mulheres fortes que deram cria neste mundo: sororidade materna. E Inês, veja bem, tem uma filha, mais ou menos da minha idade. O encontro de divas foi marcado e, qual não foi minha surpresa ao receber no meu celular, numa bela tarde de terça-feira, fotos das duas, loiras lindas e sorridentes, segurando livros autografados que atravessariam o oceano (nesse eterno fluxo histórico) para encontrar meus olhos ávidos?

Inês é viva em mim. Na minha mãe. Na Paula. E no amor de tantas mulheres fortes.

 

Mariana Vieira é jornalista, escritora, cozinheira, apreciadora de café e o que mais for preciso neste mundo exigente. Gosta de recrutar pessoas inteligentes para seu bunker em caso de apocalipse zumbi.