Feliz dia dos namorados
16Carlota,
sou eu quem nunca viu filmes de Truffaut, é você quem não se divide para dois. Você gosta de Vinícius de Moraes, sou eu quem lhe pergunta se não há outras vísceras no seu corpo. Sou faca só lâmina, você é francesa bailarina andaluza.
Meu segundo idioma é o silêncio, não quero ouvir Saint-Exupéry, Cervantes ou Oscar Wilde no original, obrigado. Me deixa aqui com John Cage. Também não precisa ler os poemas de Ariel e acreditar. São paraísos artificiais. Nos mesmos lábios do seu riso, eu sou a sátira que morde.
Mefistófeles.
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Alice,
não sou eu quem vai triturar seus sonhos tão mesquinhos e reduzir as ilusões a pó. Também não vou acelerar o relógio de seu país das maravilhas até ultrapassar 1968. Muito menos lhe apresentar Beauvoir.
Morfeu.
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Rita,
o seu poema preferido de Álvaro de Campos lembrando você de suas viagens, eu parado nesse quadro escuro de Füseli. Pode fumar toda tabacaria do remorso ou lembrar do tempo em que festejava o dia dos seus anos de namoro, porque sou eu quem nunca conheceu quem tivesse levado porrada.
“For no one”, na sua caixa de som; “Help!”, no meu fone de ouvido. Lonely Hearts Club Band.
Pepper.