Por Talles Azigon
3 de junho de 2016
Gratidão e sua falta
O Tim Félix comentou como o botão de gratidão no Facebook é falso, pois se existe um sentimento em falta na nossa geração é o sentimento de gratidão. Tenho de concordar, somos uma leva de pessoas ingratas correndo pelo mundo. Por isso temos amizades tão facilmente destruídas, pois nos importamos muito mais com o que vamos receber do que com o que vamos devolver, isso está alojado em tudo, é a lógica do capitalismo.
Vejamos, o que devolvemos, nós estudantes de ensino médio e superior, para as comunidades em que estão localizadas nossas instituições de ensino? (bem pouco, escuto muito mais desejo de fugir para um lugar mais ameno do que vontade de aplicar conhecimento em melhorias da comunidade)
O que devolvemos para nossas parceiras e parceiros na hora do sexo? (já tive algumas experiências e escutei alguns depoimentos de pessoas mais interessadas em gozar e ir embora do que compartilhar prazeres e sensações)
O que devolvemos para a pessoa que nos espera, ao moço que parou o carro para atravessarmos com nossa bicicleta, à mãe que nos carregou durantes muitos meses e teve dores, à mulher que limpou a sala que usaremos para determinada aula ou reunião, ao homem que acordou quatro horas da manhã para que houvesse pão? Dinheiro?
Dinheiro acaba, dinheiro é muito pouco. Dinheiro não resolve uma série de conflitos, não extermina violência, nem estabelece paz, aquela paz necessária para criação. Dinheiro é muito útil para manter o poder, mas não mantém coragem nem vontade de vida, digo poque já vivi a falta de coragem e de vontade de viver e aprendi com alguns poetas que somente a “vida gera vida”, Ray Lima que o diga.
Talvez, com a experiência que muitos jovens estão obtendo ao ocupar escolas no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro, possamos aprender um pouco do que seja essa tal gratidão, afinal essas escolas receberam/recebem ajuda de muita gente, ajuda material, intelectual, ajuda moral para continuarem a luta e as ocupações. Ajuda da própria comunidade que esquecemos que existe ao nosso redor.
Agora, é preciso entender que todo modelo de relação capitalista fracassou, esse modelo que enforcou boa parte da pouca gratidão que existe no mundo. Esse é o modelo que produz vídeo games de apenas um controle, computadores só para uma pessoa, livros só para uma pessoa, comida só para poucas pessoas. O modelo que mostra que ceder, emprestar, é ruim e destrutivo, o modelo que nos levou para o auge, mas cegou nossa visão lateral. Enxergamos a si, o futuro, menos o arredor.
Mais que um simples botão de Facebook, gratidão é uma das virtudes que vamos precisar cultivar para tentar uma sobrevivência em um planeta cada vez mais precário. Engana-se quem acha que isso é ser falso bonzinho, gratidão é fazer o bem olhando a quem, é devolução, pois se tivermos as mãos sempre repletas nunca conseguiremos enchê-las novamente, com novas maravilhas.