A poesia de Lucas Rolim
Lucas Rolim compartilha desde 1995 das alucinações e delírios solares na província perdida de Teresina, onde nasceu e reside. Estuda Letras Inglês na Universidade Federal do Piauí. Tem publicado seus textos em fanzines como os da série “Tetrapoema[s]” e o atual “No Panorama do Tempo o Menino se Alarga”, bem como na revista Mallarmagens e no blog A Musa Esquecida.
confessionário do kaos
um ou dois meninos
carregam o peso
dos Indecisos.
a grande fábrica suicida
distribui ansiedades pela rua.
[eu preciso acordar deste sonho apressado.
diminuir o ritmo dos tambores do céu.
afogar-me de vez numa nuvem, encher de pássaros
o velho pulmão, rachar meu esqueleto e
reparti-lo entre os estudantes de medicina.]
a loucura boia sobre o corpo febril,
o cais adormece com o sol distante.
deito-me sobre a dúvida
e amanso o delírio
com a intimidade da voz.
*
the end ou in memorian
sons de tiro abafam este pássaro.
a queda sem recomeços, sem avanços
detona os casulos de um poema.
o som de um pássaro: esta degola:
retinas líquidas gotejam no chão.
tudo aponta
em tudo
as pontas cegas,
enroladas
no mutirão
do meio-dia,
soterradas
sob um presságio
de concreto.
um bioma de delírios é abortado
no movimento de tratores cruéis.
seiva e resina: a poética ancestral
sufoca sob a muralha de poeira.
(botas de plástico, o limiar da vida)
meus pés vacilam sobre a planície:
as vitórias do metal, nudez das raízes
*
corporal
existem os braços e existem os lábios,
procurando na pele a memória perdida
pelos fotogramas.
existem os lábios alisando o desejo
e existem os olhos amansando os lábios.
existe o corpo triste e um corpo escondido
observando de longe o design solar,
imóvel detalhe entre a pressa e a distância;
imóvel ser confuso entre dedos cansados.
existe o tédio pela astrologia
e a dança dentro das nossas bocas.
uma transformação de tigres em anjos sonoros
e pássaros decaídos em crianças de bronze.
existe esta demanda cega por alguma coisa
que não sabemos dizer sem o uso do poema.
existe a mão ociosa dançando entre os gestos,
procurando no vazio a solidão de outro membro.