13 de maio de 2016

'Não é você... sou eu...'

Esse é um texto com duas desculpas clássicas para você que ainda não as conhece, mas deveria conhecer para esquiva-se delas.

Ou

Esse texto é para pessoas menos tolas e covardes, que escolheram usar o discurso da franqueza sem precisar de rudez.

Não precisa ter vergonha de ser covarde, não é o melhor título da vida, contudo é uma das fases do nosso crescimento pessoal, e haja vista uma educação sentimental cada vez mais precária, o tal crescimento fica cada vez mais difícil e lento.

Algumas precauções são importantes, não vá confundir o ser tirano, ríspido, rude, bossal e cruel com maturidade. Não seja brusco, a arte de ser suave dominada fará você cair como uma pena no corpo ou na vida de alguém mesmo durante uma tempestade; se você conseguir, alcançou um nível elevado na escala da vida, agora é só aprender a fórmula de báskara e a teoria das cordas e pronto, tá completa/completo.

Mas voltando às desculpas, você pode falar que seu cachorro comeu sua lição de casa, totalmente aceitável, que o túnel engarrafou, que a fatura não chegou, mas nunca, repito, NUNCA, deve usar desculpas imperdoáveis do tipo, “Não é você, sou eu”.

Um escudo para os medrosos, essa frase pré-fabricada esconde o juízo de valor, “estou em um outro padrão de exigência no qual você não se inclui”, é exatamente essa mensagem emitida por você, nada branda como você pensou que seria ao se autopenalizar poupando o outro. É mais difícil falar do que pesa, porém é bem mais honesto, pra você e para o outrem.

Você pode argumentar que ao expor os pontos pode abrir precedente ao debate e dificultar a convicção da sua decisão, se esse for o problema, sua dificuldade de dizer não, então você não deveria nem ter começado uma relação, volte algumas casas, trabalhe a insegurança, busque a ajuda de um profissional e resolva isso dentro de si.

Outra desculpa é: “Eu não quero te machucar/magoar”, sinto lhe informar querida/querido, Madre Teresa de Calcutá, já machucou/magoou e ainda por cima, saiu péssima/péssimo na fita. Você está trocando cruel por covarde, que não é a mesma coisa, porém se aproxima bastante.

Nenhuma pessoa gente fina deseja causar dor em outrem, mas se a dor aparecer vamos ter que lidar com ela, isso se chama vida, ninguém tem campo de força contra a dor, vai rolar tal hora, ou vai rolar muitas horas.

Diga o que você quer dizer, use a sentenças diretas, eu preciso me afastar, pois não consigo lidar com um relacionamento agora, eu estou desejando outra pessoa, eu não tenho mais certeza, por isso quero sair, eu não correspondo mais como acredito que você corresponde. É menos rude do que parece, é mais verdadeiro do que as desculpas anteriores.

No mais, ainda não fazem transfusão de sangue de lagarto para seres humanos, porém sofremos mais quando estamos ausentes de nós, então não custa nada se perceber, se conhecer, saber qual corda, qual palavra nos faz doer mais, isso diminui a intensidade das pancadas, é como construir um abrigo no chão para furacões, então cave para de dentro, ficar atento e forte, ser responsável por si, de tal forma a ficar blindadas/blindados a essas e outras desculpas mais elaboradas.

É mais fácil no texto que na vida, porém não é tão impossível quando se quer.