A poesia de Yasmin Nigri
Yasmin Nigri, carioca, 25 anos, é graduada em filosofia pela Universidade Federal Fluminense, onde atualmente cursa o mestrado na linha de estética e filosofia da arte. Feminista, cofundadora e integrante do coletivo Disk Musa, trabalha com produção de conteúdo áudio visual e performance buscando aliar arte a uma atitude política transformadora. O coletivo prepara sua primeira revista de arte e poesia feita só por mulheres para o segundo semestre de 2016. Colabora também com a Oficina Experimental de Poesia, que acontece toda quarta-feira no Méier. Tem poemas publicados nas revistas Mallarmargens, Escamandro, Germina e Jornal RelevO.
Não bastasse entrelaçados
À espera do sono
Onde sonho e realidade convergem
Para que se repare o dano
Antes que assente fundo
Antes que os perseguidores possam reclamá-lo
Preciso fosse, escreveria ao mofo das paredes, preciso fosse,
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Então você chega
E traz consigo tudo que a aurora dispersou
Envolve meu ventre com
O delicado manto que sai da sua pele
E deita ao meu lado o segundo astro que veste a cidade
Separar as tarefas do dia
Sair do acordo com o pântano
Enumerar lugares mais penalizados
Me convidar para um ménage
Recusar o convite por medo de decepcionar duas ou mais pessoas de uma vez
Traçar estratégias para quando a vida me derrubar tais como
Um dublê
Traçar espaços para os quais estou indisponível em ordem decrescente
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Começar, apesar das desvantagens linguísticas
Fazer pegar o apelido comedor de batatinhas fritas novamente
Se é que tudo isso me compete
Se é que tudo isso não seja reabsorvido
Ser aquela que grita “o rei está nu!” enquanto todos elogiam seus trajes
Ser um embuste maior que o rei
Chegar numa conversa e dizer
Obtusa monocultura stripes and stars!
Com entonação solene
Ser uma dessas pequenas personagens que recebem mais atenção do que merecem
E vocês se lançarão em cima da isca
Pintar por passatempo ou terapia e ganhar milhões
Tirar desses milhões a grana pro dublê
Bolar um último recurso
Como Bart Huges o fez ao perfurar o terceiro olho com uma broca de dentista
Tornando-se o precursor da trepanação e um dos expoentes do happening
Elencar recortes de classe
No linguajar comercial P.A é calculado através da soma de peças vendidas dividido pela quantidade de atendimentos
No linguajar universitário P.A é um pau amigo
Seus olhos se esquivaram
A carta sétima é das coisas mais belas que já li
Especialmente o trecho que diz
Nunca falei sério sobre coisas sérias
Requer uma lista:
1. Esotéricas
2. Em todo texto há duas verdades
3. Impossível é só um dos nomes do REAL
Escorreu goela afora a petulância
Daqueles que fecham Platão
Crispam os lábios e soltam
- Esse cara não me interessa
Seus olhos se esquivaram e pensei
Vou escrever um livro só de sacanagem
Lamentando pelos dançarinos prudentes
Que rodam sem vertigem
Ofertá-los algo como cobertas quentes
Velha carpideira para novos defuntos
O elã de um sentimento ardente
Mas nunca consigo parecer interessante
Sob pressão
Sobre isto, meu corpo não cansa
Contornando trilhos
Que nunca cicatrizam
Nessa eterna manobra
Se lhes torço
O cenho com ar zombeteiro
Suas lanças caem
Não mais desvio dos felinos retintos
Inquisidores
Ou desse Outro por quem vocês se passam
Escrevo como quem queda veredas
E desvencilha
Só minhas irmãs entenderão
Sabem-se condenadas
Ao exílio útero
Oco irascível
Em torno dessa fogueira
Ofertaram-me as mãos
E rodamos os passos interrompidos
De nossas ancestrais
*Alguns versos não se mantiveram como o original devido à limitação do wordpress.