Improvável Fortaleza
É fácil amar Amsterdã, Paris charmosa de mil aromas que nunca conheci. É fácil amar Sydney próspera, NY moderna, Dublin. É fácil querer Quebec sob os pés quando nunca se colocou um pedra para construir Quebec.
Uma cidade com baixos índices de violência é preferível a uma das cidades mais violentas do mundo. É simples gostar de uma cidade dita civilizada, do que gostar de uma em constante convulsão, pronta a nos destruir.
É rápido amar Londres, Lisboa, qualquer cidade europeia com seus castelos e história cravada em cada uma das pedras inamovíveis, resistentes ao tempo, registradas nos livros. Nobres, pois as lendas as tornaram nobres.
Como não curvar-se em paixão por uma Tóquio luminosa, Romântica Veneza, Artística Florença, moderníssima Deli. Incríveis, sei que as são, sem mesmo nunca ter ido a nenhuma delas.
Todas essas cidades acima citadas são, deixando a hipocrisia de lado, aos seus modos, melhores que minha cidade. Cada uma tem rios mais belos que rios que correm em minha cidade. Afinal, quase todos foram aterrados, destruídos e poluídos, os rios da minha cidade.
Hoje é aniversário dela, Fortaleza. Seria correto escrever um poema, uma declaração de amor, e não fazer essas comparações injustas. Relações impossíveis, cada lugar tem uma história, uma cidade é uma personagem que não se move, uma cidade não tem culpa, pedras não puxam espadas ou acionam gatilhos.
Um lugar é um mistério. Por que os amamos? Talvez pelo fato de como as árvores, também brotamos do chão. Não tem como negar a parte mineral que nos forma. DNA e areia, Moléculas e ruas, Tecidos e avenidas, Órgãos e praças. De Fortaleza eu também sou feito.
Uns têm o Central Park, eu tenho a Avenida C com seu Canal e sua luz linda das quatro e meia da tarde no Conjunto Ceará. Uns têm as pirâmides, eu tenho as Lagoas, da Maraponga, da Parangaba e da Messejana. Uns vivem a agitada noite de Barcelona, eu vivo os Encanto do Benfica com seus belos rapazes cruzando a avenida da Universidade. Uns se banham no Ganges, eu me banho no Poço da Draga, no Titãnzinho, na Sabiaguaba. Alguns já se ajoelharam na praça de São Pedro, eu frequentei procissões que saíam da pracinha do Itapery. Outros já comeram baguetes em Paris, eu comi pastéis na pracinha do Carlito.
Experimento Fortaleza desde de que nasci, a percorro de ônibus, pés, bicicleta. Já frequentei a Barra, e o pôr-do-sol de emudecer, fui adolescente roqueiro na praça do Polar na Vila Velha. Estudei no Centro da cidade, na Lagoa Redonda, na Maraponga e no Benfica. Andei da Praia de Iracema até a Praia do Futuro. Fui a festinhas no Aracapé e na Aldeota. A cidade não é uma só.
Acontece, não consigo explicar como, que mesmo com tanto lugares em uma cidade só, eu sei quando estou em Fortaleza. Reconheço a Sintaxe da cidade só de olhar, só de sentir o cheiro e como eu sinto falta desse cheiro quando por um acaso, vontade ou trabalho me ausento por um tempo.
Fortaleza não é nenhuma das maiores maravilhas do mundo, em arquitetura, em monumentos históricos, em exuberantes belezas naturais, e não estou negando a beleza evidente da minha cidade, pois ela possui muito colorido, calor, paisagens, prédios, gentes, tudo que forma o quadro do admirável. Mas é a minha Cidade, eu a amo. Fortaleza, cidade do improvável.